Certificação pode ser diferencial para a palma brasileira

em

O dendê, conhecido no exterior como óleo de palma e execrado por ambientalistas pelo estrago que provoca nas florestas da Indonésia e da Malásia, pode ser uma solução para áreas degradadas no Pará. O desafio é driblar a desvantagem de ter uma produção mais cara que a concorrência com algum diferencial — a aposta é a certificação. A necessidade é ainda mais urgente desde que o maior comprador mundial do óleo de palma, a Holanda, disse há poucos dias que a partir de 2015 só aceitará produto sustentável. A China estuda fazer o mesmo em 2020.

Na semana passada, a líder Agropalma recebeu sinal verde para pedir a auditoria de seus processos de produção. É um passo concreto rumo à certificação, que ainda tem um longo caminho burocrático pela fi-ente. "O Brasil tem condições de ser o primeiro país do mundo a ter toda a produção de palma certificada", diz Tulio Dias, gerente de responsabihdade socioambiental do grupo Agropahna. A estratégia é descolar a produção brasileira do desastre ambiental que o dendê provoca no Sudeste Asiático. Por enquanto, o Brasil responde por 0,5% da produção mundial — mas Vale e Petrobras ensaiam seus passos na cultura, mirando a produção fiitura de biocombustível.

São 43 países produzindo óleo de palma que é utilizado na indústria de alimentos e de cosméticos. A Indonésia, líder mundial, ocupa 7 milhões de hectares com a cultura; na Malásia, são 4 milhões. Todos os outros, juntos, respondem por 2 milhões de hectares. "Tudo isso, somado, cabe no Nordeste do Pará e no Noroeste do Maranhão", disse Marcello Brito, diretor comercial da empresa. "Palma é uma cultura boa para áreas degradadas", reforçou, em seminário que discutiu desafios da Amazônia na próxima década, promovido pelo Fórum Amazônia Sustentável. "Mas, claro, não substitui floresta."

"O problema é o custo-Brasil", continuou. Um dia de trabalho de um homem do campo no Brasil custa R$ 46, e, na Indonésia, R$ 13. O caminho para a produção brasileira, então, é certificar e ter um diferencial forte sobre os outros. Durante oito anos, um grupo internacional vem estudando critérios para a certificação — a Mesa Redonda do Óleo de Palma Sustentável (RS-PO, na sigla em inglês), tem mais de 200 indicadores sociais. No Pará, o maior produtor do Brasil, o dendê ocupa 90 mil hectares.

Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior e fundador do Imazon, instituto que pesquisa o desenvolvimento da Amazônia e propõe alternativa sustentável, acredita que o dendê pode ser um ganho ambiental para a Amazônia nas áreas degradadas. O desafio, aponta, está em tomar empreendedores os pequenos produtores. "Mas a história aqui tem sido bem diferente do que acontece no Sudeste Asiático", diz ele. "Temos muita área degradada e qualquer avanço sobre a floresta seria uma temeridade pois pode ser facilmente rastreável."

O grupo Agropalma tem fazendas em quatro municípios a 200 km de Belém e ali tem 107 mil hectares. São 39 mil hectares de plantações e 64 mil de reserva florestal. Segundo Dias, a maior dificuldade de expansão da empresa é conseguir comprar terras com a documentação em ordem.