Haverá consenso por reforma, diz Guedes

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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro ignorou a reforma da Previdência no discurso de abertura do Fórum Econômico Mundial, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tratou de transmitir uma mensagem forte a investidores em encontro promovido pelo Itaú Unibanco na direção da aprovação das mudanças.

Guedes afirmou que “vai tirar consenso” para aprovar a proposta de emenda constitucional que endurece as regras para se aposentar no País. Investidores que estiveram no almoço organizado pelo banco comentaram que a palestra de Guedes “foi um show”.

A ausência de um compromisso forte com a reforma da Previdência frustrou integrantes da área econômica do governo e também empresários brasileiros, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Havia expectativa de que o presidente desse destaque à reforma no discurso. Segundo o executivo de uma empresa brasileira, a fala de Guedes no almoço com investidores “equilibrou” a falta de ênfase de Bolsonaro.

A expectativa agora se volta para a entrevista que o ministro da Economia dará hoje no centro de mídia do Fórum.

No encontro do Itaú, para rebater a preocupação dos investidores com o risco de o Congresso travar a aprovação da reforma, Guedes colocou suas fichas numa frente ampla de governadores para apoiá-lo. “Ele foi bastante firme nas reformas e disse que vai tirar consenso”, contou o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva que estava no almoço. Segundo os organizadores, o encontro despertou muita atenção neste ano pela procura de executivos de bancos e outras empresas interessados em ouvir Guedes. Comparado a edições antigas, o evento foi mais concorrido e contou com cerca de 100 pessoas.

Capitalização. O executivo da Embraer disse que o ministro voltou a repetir que a proposta vai ter a introdução do regime de capitalização (sistema pelo qual as contribuições são feitas para uma conta individual, que banca os benefícios no futuro), mas de forma “segura”. “Só falou que tem de tomar cuidado para ser balanceado”, disse Silva.

Segundo o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, investidores quiseram saber se o governo Bolsonaro teria apoio do Congresso para aprovar a reforma. Como noticiou o Estadão/Broadcast, o risco de a reforma travar no Congresso foi apontado como a principal preocupação sobre o Brasil entre os presentes no evento, que reúne a elite financeira internacional.

Trabuco disse que Guedes respondeu que o governo não vai ter dificuldade para aprovar o texto e ressaltou a força dos governadores para conseguir aprovação da reforma no Congresso. Segundo Trabuco, Guedes reforçou no encontro a presença do governador de São Paulo, João Doria, que coordena o fórum dos governadores, de onde saiu uma frente de mobilização dos Estados pró-reforma.

De acordo com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, Guedes deixou os detalhes sobre as mudanças para serem anunciados no Brasil. “O lugar para apresentar política mais detalhada é no Brasil. Aqui é o norte”, disse Mesquita. Ele concordou com a estratégia de comunicação do ministro da Economia e afirmou que ele deu garantia de que terá apoio político para a reforma.

Em encontro com presidentes de algumas das maiores empresas do mundo, Bolsonaro, ao lado de seus ministros, prometeu que o projeto de lei da reforma será apresentado “assim que o novo Congresso se reunir”. “Eles nos disseram que essa é a prioridade e que o projeto da reforma será apresentado já nos primeiros dias (da nova Legislatura)”, contou o executivo.

Bolsonaro também admitiu que a reforma pode não sair exatamente como eles previam, já que certas “acomodações” terão de ser feitas para garantir sua aprovação.

Ao Estadão/Broadcast, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirmou que, depois do discurso, em jantar com investidores, Bolsonaro afirmou que a reforma é “imprescindível”, mas a que precisa ser feita é aquela que pode ser aprovada. Segundo o general, não era “o caso nem o lugar” para o presidente falar da reforma no discurso inaugural do fórum deste ano. “Achei o discurso ótimo. Muito preciso. Cada parágrafo com uma ideia de força”, disse Heleno. “Se fosse longo, também iriam reclamar”, disse ele, acrescentando que há uma “marrentice” daqueles que sempre criticam o governo.

No encontro, empresas como a Arcelor Mittal, Embraer ou Nestlé estiveram presentes. Durante o encontro, Bolsonaro ainda foi cobrado em relação à proteção ambiental, em especial na Amazônia, e quanto a questões relacionadas com a defesa de indígenas.

À noite, Bolsonaro divulgou em sua conta no Twitter um vídeo em que discursa a investidores durante um jantar. Ele disse, sem se aprofundar, que a reforma da Previdência é o “dever de casa” de sua equipe. “Eu quero o bem para o Brasil, mas quero o bem para o mundo, respeitando os contratos e fazendo de verdade o dever de casa, que passa por reformas, como a Previdência, entre outras.” 

Estado de S. Paulo