Maia: ‘não se investe em país que ataca as instituições’

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O Globo 
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Em discurso para uma Câmara em silêncio, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que a votação da reforma da Previdência foi histórica e defendeu o protagonismo do Parlamento no fortalecimento da democracia. Buscando marcar diferenças com o presidente Jair Bolsonaro, Maia disse que nada se constrói com ataques. E não citou diretamente nem o presidente e nem o ministro da Economia, Paulo Guedes. Já o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o secretário da Previdência, Rogério Marinho, foram lembrados.

A reforma foi aprovada com 379 votos a favor. O discurso de 15 minutos de Maia foi feito antes do anúncio do resultado. Em sua fala, ele reafirmou o papel do Congresso:

—Não haverá investimento privado em democracia forte. Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições. Em nenhum momento, quando a Câmara foi atacada, saí do meu objetivo, que é a votação de hoje.

Maia se emocionou na votação e no anúncio do resultado. E chorou ao ser homenageado pelo PSL, de Bolsonaro:

— Este é um momento histórico para todos nós, os que defendem e os que não defendem a reforma. A cada discurso que ouço, tenho convicção de que a posição de reformar o Estado é a posição correta.

Maia disse ter uma agenda para o Brasil, ao defender maior eficiência no setor público e a reforma tributária:

—Os salários no setor público são 67% maiores do que no setor privado, com estabilidade e pouca produtividade. E é isso que a gente precisa combater, é esse desafio o que nós precisamos enfrentar.

Segundo Maia, as mudanças no Brasil passam pelo Parlamento e pela política. Declarando orgulho em presidir a Câmara, ele afirmou que a reforma vai combater privilégios e o déficit das contas públicas:

— Oitenta por cento de tudo o que se arrecada são gastos com pessoal e Previdência. O México gasta 45%, o Chile gasta 43%, os EUA gastam 70%. Então, tem alguma coisa errada.

O caminho para a votação foi árduo. Alguns dias antes, Maia discutiu com alguns líderes do centrão, que mostravam insatisfação com a proposta. E entrou em rota de colisão com o governo, que queria regras mais brandas para policiais.

Mas Maia também cedeu. Após se reunir com o centrão, concordou em deixar estados e municípios para outra etapa, a fim de garantir a aprovação da reforma.

Segundo o relator do projeto, Samuel Moreira (PSDBSP), Maia aliou estratégia a “consciência de plenário e temperatura política.” E para o presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), Maia conduziu o jogo:

— Ele matou a reforma no peito, bateu escanteio e correu para fazer gol, mesmo com o Bolsonaro chutando contra.