Para crescer 6%, só com corte robusto de gastos

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Em 2001, o economista britânico Jim O’Neill publicou um estudo que alertava para a mudança no eixo econômico mundial, simbolizada pela sigla Bric, referindo-se ao poder de Brasil, Rússia, Índia e China. Naquele ano, o Brasil cresceu 1,3%. Hoje, o diretor do fundo de investimentos do Goldman Sachs vê progressos, mas não aposta na sustentabilidade do ritmo de 2010.

O GLOBO: O senhor se surpreendeu com o índice de crescimento da economia brasileira em 2010?

JIM O’NEILL: Definitivamente, não. Até porque, em certo ponto do ano passado, achei que o resultado poderia ser ainda mais alto. Penso que o potencial de crescimento do Brasil elevou-se para patamares mais altos do que muitos analistas do país previam, mas não acredito que uma taxa de 7% ou mais seja sustentável.

? O Brasil já cresceu a taxas mais altas, mas agora fala-se em responsabilidade. O senhor concorda?

O’NEILL: A grande razão para o crescimento de agora é que houve uma década de baixa inflação, e a importância disso começa a entrar na psique dos brasileiros. De certa forma, sob uma perspectiva econômica, o Brasil é como um novo país. Acredito que a taxa mais sustentável de crescimento esteja em torno de 5%, possivelmente 6%, se políticas robustas de redução dos gastos governamentais forem adotadas.

? O quão importante foi a administração de Luiz Inácio Lula da Silva para esse processo?

O’NEILL: É verdade que a estrutura para o crescimento tem origem no governo de Fernando Henrique, mas Lula merece crédito não somente por manter pontos-chave dessa política econômica, mas por assegurar a adesão de todos os segmentos da sociedade e por trabalhar pela melhor distribuição de renda.

? Muito do sucesso brasileiro é atribuído aos programas de redução da pobreza e ao estímulo ao consumo das classes mais pobres. O senhor vê problemas de sustentabilidade nesse modelo?

O’NEILL: É um modelo admirável e que deve ser elogiado, mas é secundário diante da importância do controle da inflação e de modéstia nos gastos públicos.

? O que dizer em relação à reação do Brasil aos últimos choques econômicos internacionais?

O’NEILL: Vimos resultados positivos em 2009 e 2010. A resposta do Brasil à mais severa crise dos tempos modernos foi muito diferente de outras épocas, o que é sintoma da força dos fundamentos do país.

O Globo