Petrobras pode recorrer à importação de gasolina

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No momento em que os preços do petróleo disparam nomercado internacional, no embalo da crise no mundo árabe, a Petrobras admite recorrer a importações para assegurar o abastecimento de gasolina este ano. O presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, atribuiu tal possibilidade não só à expansão de 19% do consumo do combustível no ano passado, mas também a uma oferta provavelmente mais restrita de etanol durante este ano e o próximo. Embora tenha evitado confirmar números, Gabrielli lembrou que tal combinação contribuiu, já em 2010, para a importação do produto pela Petrobras.

Ontem, impulsionado pelos últimos acontecimentos na Líbia, o barril do tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres, mantinha trajetória de alta, cotado a US$ 104,20 — com valorização de 1,64%. Pela manhã, no entanto, chegou a alcançar US$ 104,70, maior valor desde 2008. O barril WTI, negociado na bolsa de Nova

York, operava em queda de 0,18%, para US$ 86,20. Na avaliação do presidente da Petrobras, tal instabilidade deverá permanecer pelo menos até o fim do primeiro semestre, mas evitou qualquer estimativa.

Gabrielli justificou que, diferentemente de outras crises, três fatores contribuem para aumentar o mistério quanto ao futuro dos preços do petróleo no mercado internacional: a incerteza quanto à reação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que dispõe de capacidade para expandir a

produção em 5 milhões de barris por dia; as baixas taxas de juros nos países industrializados, que estimula a busca de investidores pela rentabilidade dos derivativos de commodities; e o fato de boa parte do crescimento econômico mundial se dar em países emergentes, menos sujeitos ao escrutínio dos agentes de mercado.

Apesar da possibilidade de importação de gasolina, Gabrielli afirmou que a empresa ainda não teve que recorrer ao mercado externo, neste ano, para abastecer os postos do país. Atualmente, de acordo com o executivo, as refinarias da Petrobras operam com capacidade média de 92%, o suficiente para atender ao consumo brasileiro. O problema, ponderou o executivo, é que o regime de chuvas desfavorável em 2010 projeta safras ruins de cana-de-açúcar e uma menor oferta de etanol nos próximos dois anos. “Nosso objetivo é evitar a importação de gasolina,mas nós nunca deixamos de atender ao mercado interno”, afirmou Gabrielli.

Repasse

O presidente da estatal descartou, no entanto, reajustes, pelo menos no curto prazo, nos preços tanto da gasolina quanto dos demais derivados produzidos no

país. Apesar da perspectiva de perda de receita para a companhia, com a manutenção dos preços, a política permanece a mesma, diz Gabrielli. Muito criticada

por agentes privados do setor, a empresa leva em consideração apenas as flutuações de longo prazo nas cotações internacionais do barril do petróleo. Dessa forma, justificou Gabrielli, a estatal evita transferir para o consumidor final a volatilidade do mercado internacional.

Apesar de descartar novos reajustes, ele admite preocupação com a atual correlação entre oferta de refino e consumo de combustíveis no Brasil. Tal fato foi usado pelo executivo para justificar os investimentos em quatro novas refinarias, no país, nos próximos sete anos. “Não investir em novas refinarias, neste momento, é um suicídio de longo prazo. E temos que investir agora”, afirmou o executivo, ao rechaçar as críticas de analistas de mercado, que defendem a canalização de recursos da estatal para o pré-sal da Bacia de Santos. Gabrielli participou ontem, no Rio, de seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

REVISÃO

Novas refinarias terão projeto único para baratear custos

A Petrobras quer reduzir os custos de construção das duas novas refinarias previstas para os estados de Maranhão e Ceará, batizadas de Premium 1 e 2. Ontem, o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, anunciou que, para isso, a companhia vai reformular o projeto básico das duas unidades, que deverão ter um único projeto padronizado. Embora tenha confirmado a conclusão do trabalho entre junho e julho próximos, o executivo evitou precisar em quanto deverá reduzir tais custos.

Voltadas originalmente para abastecer mercados estrangeiros, as duas refinarias deverão ter a produção destinada, agora, exclusivamente ao mercado interno — mais especificamente o Nordeste e o Centro-Oeste do país. Gabrielli informou, no entanto, que todos os novos detalhes dos empreendimentos estarão definidos no novo projeto básico, contratado junto a uma empresa brasileira cujo nome não soube precisar.

A revisão, de acordo como executivo, obedece à necessidade de revisar os parâmetros usados anteriormente pela companhia. No ano passado, exemplificou o executivo, o consumo brasileiro de derivados ultrapassou, pela primeira vez na história, a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Atualmente em fase de elaboração pela companhia, o novo Plano de Negócios da Petrobras deverá projetar aumento da produção interna de petróleo em relação à atual previsão, de 3,9 milhões de barris por dia em 2020. No mesmo período, a companhia projeta capacidade de refino de 3,2 milhões de barris por dia.

Brasil Econômico