Por que o etanol aumenta quando a gasolina sobe?

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Valor Econômico
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A Petrobras aumentou o preço que os distribuidores terão que pagar à refinaria para comprar gasolina e diesel, o quarto reajuste do ano. Essa revisão atinge o consumidor, já que o preço médio da gasolina aumenta na hora. Só que o etanol sobe junto, ainda que não esteja na alçada da estatal.

Esse aumento “casado” acontece invariavelmente e seu reflexo aparece nos postos de gasolina. Para entender a razão, “Autoesporte” conversou com Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), organização que representa os produtores de etanol de cana.

O primeiro motivo é de oferta e demanda. Como álcool pode substituir a gasolina nos carros flex, o consumidor é levado a optar pelo mais barato. Mas se a procura pelo etanol aumenta, seu valor sobe também. “Se não há uma correção de preço, a demanda por etanol se elevaria muito por parte dos distribuidores, e com a oferta de matéria-prima mantendo-se a mesma, o preço seria elevado de toda forma em algum momento futuro”, diz Pádua.

O mercado de combustíveis tem cotação diária. Ou seja, o preço varia todos os dias, o que pode gerar impacto direto e imediato nas bombas dos postos. “O preço da gasolina está muito ligado ao câmbio e ao preço do petróleo. Se amanhã o preço do barril de petróleo caísse para US$ 40, e consequentemente o preço da gasolina diminuísse, o valor do etanol cairia também”, afirma.

Para quem está precisando abastecer o carro, parece injusto: quando a imprensa anuncia um aumento, o dono do posto logo sobe os preços, ainda que seu reservatório esteja cheio (e adquirido a preço menor). Ora, se ele pagou menos, que venda por menos, certo? Não.

Para o dono do posto, o problema é outro. Com o aumento, se ele vender o “estoque” ao preço antigo, não terá margem para recompor os tanques com o valor atualizado.

O caso inverso também não beneficia o consumidor. Quando a Petrobras reduz os preços, a vantagem dessa redução demora até aparecer na bomba - quando aparece. Deixando de lado razões especulativas, aqui vale uma lógica comercial.

Todo o combustível que está armazenado teoricamente foi adquirido pelo empresário por uma cotação mais alta. Assim, se ele repassar imediatamente esse “benefício” para o cliente, terá que absorver o custo adicional.

Outro fator que se leva em conta na hora de precificar o etanol são os períodos de safra e entressafra da cana. De abril a novembro, momento em que as plantações estão produtivas, o etanol fica mais competitivo no mercado (preços mais baixos) e sua venda é maior por conta do aumento da oferta.

Já na entressafra, o mercado se regula. Cerca de metade da matéria-prima produzida e reservada da safra precisa dar conta do etanol vendido no período entre dezembro e março, uma vez que a produção será baixa. Assim, o combustível fica menos competitivo no mercado e isso culmina nos preços sendo elevados devido à diminuição da oferta.

No Brasil, a própria entressafra acaba provocando influência no preço da gasolina. A gasolina vendida no país contem etanol em sua composição, cerca de 27%. Quando o álcool aumenta, a refinaria paga mais caro à indústria alcooleira. E transfere este custo para os distribuidores, que repassam aos postos, e estes repassam ao consumidor final.

Sobre o preço final que o consumidor paga nas bombas de combustíveis, Pádua ainda explica que existem outras variáveis que modificam esses valores. “O preço pode cair no produtor e subir na bomba, ou vice-versa, tudo depende também da política de margem de lucro das distribuidoras e da política de margem da revenda. O mercado de combustíveis é pautado por todas essas variáveis”.

Por fim, o diretor da Única relembra que os combustíveis, assim como diversos outros produtos, são afetados pelas mudanças no ICMS. “Mesmo que o preço do etanol caísse agora em março, como a referência de cobrança do ICMS é de fevereiro e o preço está alto, ainda sim a cobrança do imposto iria aumentar o preço final”. (Auto Esporte)