Produção interna de derivados só cresce no fim de 2013

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A nova dependência na balança comercial brasileira, decorrente do aumento no consumo de combustíveis e demais derivados de petróleo, ainda vai demorar para ser "consertada". Apenas em 2013 a oferta das refinarias em construção começa a chegar ao mercado nacional.

Enquanto a dependência cresce, as causas da explosão de consumo de gasolina no ano passado não são uma unanimidade. Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras, atribui o aumento à quebra da safra de cana, que reduziu a oferta de etanol no início do ano, enquanto Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, afirma que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) elevou de tal forma o consumo de combustíveis no país que evidenciou a necessidade de mais investimentos em refino.

Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), acrescenta mais hipóteses. Para ele as causas são pontuais, reflexo da política anticrise adotada pelo presidente Lula em 2009 para reduzir os impactos na crise financeira internacional. "2010 foi um ano atípico. Em 2009 o governo brasileiro criou uma série de incentivos para aumentar o consumo e passamos a crise financeira vendendo carros, geladeiras e outros bens de consumo não duráveis. E quem comprou carro foi aos postos, achou o etanol caro e trocou pela gasolina, que acabou sendo insuficiente", diz Pires.

Silveira avalia que o país precisa urgentemente das novas refinarias da Petrobrasjá que a estratégia de importar derivados aumenta o risco das contas externas. Na opinião dele, o déficit na balança de petróleo e derivados aumenta a dependência do país por alguns "poucos setores cujas exportações estão predominantemente vinculadas a dinâmica de crescimento chinês" como a agricultura e siderurgia e continuar nesse ritmo de aumento das importações de derivados seria uma política suicida.

"O PIB cresceu 7,2% (segundo projeção da RC Consultores) e o que a gente percebe por esses números é que a oferta interna de derivados ficou aquém do necessário. A questão crucial é o abastecimento doméstico. E em um mundo que se torna cada vez mais protecionista, pensar apenas em importar derivados me parece uma estratégia de certo risco, até porque aumenta o risco das contas externas. E não dá para olhar a economia brasileira sem olhar a Petrobras", afirma Silveira.

Costa, diretor da área de Abastecimento e Refino da Petrobras, lembra que atualmente o mercado brasileiro já é maior que a capacidade instalada da Petrobras - que é capaz de refinar aproximadamente 2 milhões de barris de petróleo por dia. "O mercado está crescendo e ser não fizermos novas refinarias, a balança comercial vai para o espaço", diz.

O diretor ressalta que o mercado de derivados está crescendo a um ritmo de 10% para um PIB de 7,3% a 7,5% e mesmo com um PIB menor, entre 4% e 4,5%, lembra que a Petrobras já atingiu toda sua capacidade de produção de combustíveis. "Importamos derivados porque o consumidor quis gasolina. E importamos diesel porque não tenho refinarias para produzir mais do que o que entregamos no ano passado. É isso", afirma Costa.

A questão é relevante porque a construção de quatro refinarias quase simultâneas no país, está entre as maiores críticas do mercado financeiro à atual gestão da Petrobras. Mesmo utilizando o máximo de sua capacidade instalada de refino e com o consumo de derivados crescendo mais que o PIB, a Petrobras terá que esperar o fim de 2013, quando as primeiras das novas refinarias programadas estiverem operando, para reduzir substancialmente a importação de combustíveis e mesmo alcançar a autossuficiência.

Juntas, as quatro refinarias em fases distintas de construção ampliarão em 1,46 milhão de barris por dia, 76,8% da capacidade atual . Não computando possíveis ampliação das refinarias atuais, a capacidade de refino chegaria a 3,36 milhões de barris/dia por volta de 2018.

Atualmente, a Petrobras possui 12 refinarias, três delas, no Amazonas, Rio Grande do Norte e Ceará, de pequeno porte, processando no conjunto menos de 100 mil barris de óleo por dia. A maior de todas é a Replan, em Paulínia (SP), com capacidade para 390 mil barris por dia.

De acordo com a programação da estatal, no fim de 2013 entram em produção a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, processando 230 mil barris por dia, e a primeira fase do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) que será uma refinaria para 165 mil barris de óleo por dia, totalizando 395 mil barris/dia de acréscimo, equivalentes a uma nova Replan.

As duas obras, marcadas por polêmicas entre a Petrobras e o Tribunal de Contas da União (TCU), estão em fases próximas de execução. A Abreu e Lima, que ainda aguarda uma participação societária de 40% da estatal venezuelana PDVSA, começa a receber e instalar os equipamentos, enquanto o Comperj concluiu a obra de terraplenagem e já contratou a maior parte dos equipamentos. O Comperj tem uma segunda unidade de refino, do mesmo porte, prevista para operar entre 2017 e 2018.

A maior de todas as quatro refinarias programadas pela Petrobras é a do Maranhão, com capacidade para processar 600 mil barris por dia. A primeira fase dessa planta está programada para entrar em operação (com 300 mil barris/dia) no fim de 2014 e a segunda fase está prevista para 2016.

A quarta refinaria, na área do porto de Pecém (Ceará) terá capacidade para 300 mil barris/dia, enfrenta problemas para a liberação do terreno que é reivindicado por uma etnia indígena. O terreno pertence ao governo do Estado que está negociando com os índios. Devido à demora na liberação, a Petrobras estima que a refinaria só entrará em produção em 2017.  

Valor Econômico