Crise no Egito pode afetar economia brasileira

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A conflagração política no Egito pode afetar o fluxo de capital no mundo e prejudicar, de forma indireta, países como o Brasil. A avaliação é do presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, para quem a elevação recente dos juros nas emissões de títulos no exterior já seria um primeiro sinal da reação do mercado internacional.

— O que começa a aparecer é a aversão a riscos por parte dos investidores, preocupados com os desdobramentos do conflito numa região que concentra as maiores reservas de petróleo do mundo — disse ele.

Para Lima, a possibilidade de um recrudescimento da crise egípcia geraria efeitos ainda mais negativos do que os provocados, por exemplo, pela derrocada econômica na Grécia:

— O potencial de estrago é maior e o Brasil pode ser afetado. O país está relativamente isolado, mas não é blindado.

Roberto Padovani, estrategista sênior do Banco WestLB do Brasil, tem análise parecida. Segundo ele, ainda que o Brasil não dispute investimentos com a região afetada pela crise egípcia, as turbulências podem afetar os fluxos de capital. Para ele, mesmo que a crise seja temporária, os países emergentes, incluindo o Brasil, devem esperar para fazer captações externas:

— O mercado está se acalmando. Mas há uma forte insegurança entre os investidores.

Empresas suspendem planos de novas emissões

Em função da crise no Egito, que levou ao aumento dos custos para captação de capitais, empresas brasileiras como a Braskem teriam engavetado planos de novas emissões. A empresa, que recentemente fez um “road-show” junto a investidores europeus, não se pronunciou sobre o assunto. Entre os empresários, existe a

preocupação de interrupção no fluxo comercial entre os dois países. O Egito compra do Brasil principalmente minério, açúcar e carnes. Neste último caso, o

mercado egípcio responde sozinho por cerca de 4% das exportações de carnes brasileiras — o equivalente a cerca de US$ 300 milhões por ano em vendas.

— Não existe uma luz vermelha acesa. Mas, no curto prazo, podem ocorrer problemas — disse o diretor-adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto.

Para Monica de Bolle, economista da Galanto Consultoria, a crise na região árabe pode intensificar o movimento de elevação dos preços das commodities, especialmente o petróleo. E, dessa maneira, atingir a economia americana (bastante sensível às oscilações de preço do produto).

— A alta do petróleo alimenta os riscos de que haja um freio na retomada da economia americana. E este é um cenário que pode acontecer ainda no primeiro semestre de 2011. Em consequência, a partir de um recuo na demanda, a atividade econômica brasileira seria afetada — disse ela.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, concorda que o ponto central dessa crise está no petróleo:

— O risco de uma produção menor, num momento em que a demanda começa a se recuperar, pode levar o petróleo para patamares elevados de novo. É diferente da situação da década de 70, quando as novidades no Oriente Médio foram de fato inesperadas, e levaram os preços a quadruplicarem em um período muito curto de tempo. Dessa vez, ao contrário, o petróleo já estava caro quando a crise começou.

O Globo