Alta de combustíveis não deverá repor defasagem

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A redução no preço da energia, em janeiro, abrirá espaço para que a Petrobrás reajuste os preços de seus combustíveis, mas ainda de forma insuficiente para que a empresa os equipare aos do mercado externo. De acordo com fontes, a Petrobrás calcula internamente em 18% a defasagem atual entre o preço doméstico da gasolina e o internacional. O diesel seguiria igual proporção.
 
O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que a redução de 16,2% na eletricidade residencial, anunciada pelo governo para a partir de janeiro, equivale a um recuo de 0,54% na inflação medida pelo IPCA. Com essa redução, seria possível reajustar em 13,5% o diesel e a gasolina sem impacto na inflação, diz o consultor Adriano Pires.
 
O IBGE é mais conservador: estima impacto de 0,49 ponto porcentual no IPCA, o que abriria espaço para um reajuste mais baixo nos combustíveis, de 12,15%. A estimativa de defasagem de 18% nos preços, usada pela Petrobrás, é também bem inferior à do mercado. O CBIE, por exemplo, calculou ontem a atual diferença de preços em 27,2% para a gasolina e de 27,7% para o diesel.
 
Independentemente do cálculo, o alívio que o barateamento da conta de luz vai proporcionar à inflação a partir de janeiro é insuficiente para que a companhia equipe seus preços com o mercado internacional, caso o governo opte por essa estratégia.
 
A diferença de preços, no primeiro semestre, custou US$ 6 bilhões à Petrobrás, que para dar conta do crescimento da demanda do mercado interno precisa importar combustíveis mais caros que os vendidos em postos.
 
Gráficos da própria companhia mostram que, desde janeiro de 2011, a defasagem de preços gera prejuízo à Petrobrás. Há quase oito anos não há reajuste de preços com impacto nas bombas. Os aumentos vinham sendo compensados com cortes na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), zerada desde o último reajuste de diesel (3,94%) e gasolina (7,83%), em junho deste ano.
 
A possibilidade de usar a redução na conta de luz para reajustar o preço dos combustíveis sem impacto na bomba foi citada na última reunião do conselho de administração da Petrobrás, em 3 de agosto, segundo fontes.
 
Porém, essa não foi a única estratégia para melhorar a remuneração da companhia mencionada pelo conselho, ou em estudo no governo. O possível aumento da mistura do etanol (de 20% para até 25%) à gasolina também foi citado. Além disso, o governo apostaria na possibilidade de redução dos preços do petróleo tipo Brent no mercado internacional nos próximos meses. Outra possibilidade seria a diminuição da margem de distribuidores, estratégia ainda não confirmada.
 
Sem data. Segundo fontes, o governo (a União controla a estatal de capital misto) ainda não tem data para reajustar os combustíveis. Tampouco está estabelecida se a estratégia será a de dar aumento só no ano que vem, quando entra em vigor o corte no preço de energia e a nova safra de cana-de-açúcar, ou de parcelar os reajustes e permitir algum aumento ainda este ano.
 
Mas o governo tem sido cobrado para que estabeleça uma política de reajuste de preços com um período claro para a paridade. O tema foi tratado em carta de investidores estrangeiros e brasileiros encaminhadas à companhia, como revelou a Agência Estado na semana passada. Também foi motivo de cobrança de conselheiros da companhia, segundo uma fonte. Já a Petrobrás diz que sua política é de médio e longo prazos, de forma a não repassar a volatilidade do mercado externo aos preços internos.
 
O Estado de S. Paulo