Alta de combustível é um dos fatores de risco

em

A alta de 1,22% no IPCA nos primeiros três meses deste ano não estava nas planilhas dos analistas, que esperavam uma elevação mais intensa. Depois do resultado de março - quando o indicador subiu 0,21%, enquanto que a expectativa dos economistas consultados pelo Banco Central era de aumento de 0,43% - houve um movimento de ajuste para baixo nas projeções.

A mudança, porém, não alterou o panorama para o segundo semestre, que inclui uma retomada na atividade no Brasil e no exterior. Também está no radar dos analistas um possível reajuste nos preços dos combustíveis e os reflexos da política econômica. "Poderemos ter novos ajustes para cima ou para baixo nas projeções, de acordo com a confirmação ou não dessas expectativas", comenta Flávio Serrano, do BES Investimento.

Ele diz que a extensão do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para linha branca e a do benefício tributário para outros produtos deve ajudar a conter a inflação. Já o impacto sobre os preços no varejo das demais ações do governo para incentivar o setor industrial, em sua avaliação, deverá ser nulo, na sua avaliação. "As medidas não melhoram as condições de oferta. O que precisamos é de investimentos, e isso só se consegue com um ambiente mais favorável aos negócios no longo prazo."

O economista-chefe do Deutsche Bank, José Carlos Faria, é ainda mais reticente e vê com cautela o reflexo das ações governamentais sobre o IPCA. "Num balanço geral, eu diria que as medidas têm mais chances de elevar que diminuir a inflação." Ele comenta que se o governo decidir criar entraves às importações e interferir demais no câmbio, dois dos fatores que vinham contribuindo para uma desaceleração do IPCA poderão ser neutralizadas.

O aumento da inadimplência, que tem servido de trava à inflação, também poderá ter seu efeito reduzido. Flavio Combat, da Concórdia Corretora, observa que, com os atrasos, os bancos se tornaram mais seletivos na concessão de crédito, o que resultou em elevação dos juros às pessoas físicas, mesmo com os cortes na taxa Selic. "O governo, entretanto, tem se mostrado disposto a forçar uma redução no spread bancário [diferença entre os juros pagos pelos bancos ao captar recursos e os cobrados nos empréstimos aos consumidores]. Se isso acontecer, poderemos ter mais pressão sobre preços."

Enquanto o consumidor estiver endividado, a LCA vê pouco espaço para aumento das pressões inflacionárias. Uma mudança nesse cenário só deve ocorrer, segundo a consultoria, se houver um grande movimento de renegociação de dívida. (FL)    Valor Econômico