Bandeira branca com os dias contados

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O cenário cada vez mais competitivo na distribuição de derivados e etanol tem afetado a revenda varejista de combustíveis. As principais empresas do setor apostam na intensificação do embandeiramento de postos vista nos últimos anos e traçam metas para avançar com suas marcas e serviços em pontos estratégicos. Raízen e BR preveem o crescimento de sua rede, enquanto Ipiranga e a Ale planejam adicionar centenas de novos postos em seus portfólios nos próximos anos. Essa tendência de redução no número de postos do tipo bandeira branca, sem vínculo com uma distribuidora, é fruto de uma conjunção de fatores, que começa na incapacidade da Petrobras de atender à demanda de combustíveis com crescimento de refino. Essa realidade, aliada à política do governo de manter o preço de óleo diesel e gasolina controlados e ao controle mais rígido do caixa da petroleira, imposto pela diretoria que assumiu em 2012, fez a Petrobras exigir maior organização das distribuidoras para entregar os pedidos de derivados. Os volumes de combustível que não eram retirados ou eram solicitados com pouca antecedência nos pontos de entrega eram absorvidos pela Petrobras. Com a nova política da companhia, porém, esse custo começou a ser repassado para as distribuidoras. Entre as novas regras está a antecedência de mais de um mês para os pedidos e a exigência de determinação de volume e local de entrega, com sobretaxa quando parte desse combustível não é retirada. “Como há apenas um fornecedor, o contrato com a Petrobras é praticamente um termo de adesão. Não há quase nenhum espaço para negociação”, explica um executivo do setor. Uma vez que também não há disponibilidade de volumes extras não solicitados com antecedência, as distribuidoras mais organizadas e eficientes têm tirado vantagem desse mercado mais regulado. Quem tem mais controle até o posto consegue ter mais previsibilidade para encomendar combustíveis e menos riscos de pagar multas à Petrobras. Diante desse cenário, para a revenda, associar-se a uma bandeira, com fornecedor único, é uma garantia de receber produto sem dor de cabeça para correr atrás de distribuidoras com volumes disponíveis. E em um mercado de demanda crescente e sem muito combustível extra, as distribuidoras garantem a entrega apenas para postos com contrato. A estratégia das distribuidoras de avançar com suas marcas na revenda se reflete diretamente nos números do mercado. O número de postos no Brasil cresceu 9,5% desde 2008, atingindo 39.163 no ano passado. Nesse período, a participação dos postos bandeira branca caiu de 44% para 40,7% do mercado. Essa tendência se acentuou nos últimos dois anos. E apesar de o número de postos revendedores ter se estabilizado desde início de 2012, quase 1.000 postos de bandeira branca passaram a ser embandeirados.” Essa dinâmica tem sido mais forte em três regiões. No concorridíssimo mercado do Sudeste, o número de postos bandeira branca caiu 850 unidades desde 2008, enquanto cerca de 1.400 postos embandeirados surgiram nesse período. “A diminuição da bandeira branca é uma tendência natural. Os postos novos já estão nascendo embandeirados”, avalia o presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares. Também o Centro-Oeste e o Norte têm apresentado ritmo forte de embandeiramento da revenda. Os dois mercados têm crescido com taxas que superam dois dígitos, e o consumo tem se interiorizado, criando um cenário positivo, tanto para a abertura de novas revendas, quanto para ganho de eficiência, com maior volume comercializado por posto. No Norte, a participação de bandeiras brancas no número de revendas caiu de 50,5%, em 2008, para 40,6%, em 2013. Havia 1.322 unidades sem bandeira e agora são apenas 1139. Etanol A ação mais firme das secretarias estaduais de Fazenda e da ANP contra o mercado informal de etanol também contribui para o aumento do número de postos embandeirados. É na venda do biocombustível que as distribuidoras menores e os postos bandeira branca possuem o maior market share. Essa margem, contudo, vem se estreitando, sobretudo após a desoneração de PIS/Cofins do etanol. E enquanto as distribuidoras regionais vêm perdendo espaço no mercado de etanol, as quatro distribuidoras associadas ao Sindicom – BR, Ipiranga, Raízen e Ale –, que possuíam 59% desse mercado em 2012, fecharam o primeiro trimestre deste ano com 67%. Esse etanol comercializado pelas quatro distribuidoras vai, majoritariamente, para postos com suas bandeiras.

Revista Brasil Energia