Barreira ao carro importado

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Para combater a invasão de veículos importados no país, principalmente sul-coreanos e chineses, o governo tomou ontem uma medida que aumenta em até 28% o preço dos carros e caminhões importados de empresas que não têm fábricas no Brasil. O Ministério da Fazenda elevou em 30 pontos percentuais a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis de fábricas com menos de 65% das peças nacionais ou produzidas no Mercosul.

Com a medida, a partir de hoje até o fim do ano que vem, na venda de automóveis de mil cilindradas, por exemplo, o IPI cobrado passará de 7% para 37%. Em carros mais potentes, o tributo pode chegar a 55%. A decisão de elevar o IPI de importados foi anunciada pelo GLOBO em 20 de agosto.

A nova alíquota começa a valer imediatamente, porém, as empresas terão dois meses para se enquadrar. Caso contrário, pagarão o imposto de forma retroativa. As montadoras que sabem que não se enquadrarão, as que somente importam, devem repassar imediatamente o aumento para o preço. Nas contas da equipe econômica, o impacto nos preços dos importados será de 25% a 28%.

Para fugir dessa alta de imposto, as empresas têm que ter no mínimo 65% de conteúdo nacional: o que beneficia o setor de autopeças nacional, que sofre com a concorrência dos importados impulsionada pelo dólar barato. Além disso, a montadora tem de fazer investimento em inovação tecnológica. E cumprir seis de 11 requisitos da medida provisória, que será publicada hoje. Segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, essa foi a saída para blindar o setor contra a crise mundial.

— O patrimônio que o Brasil tem para enfrentar a crise é o seu mercado interno. À medida que a gente sinaliza que esse patrimônio, que é o quinto mercado da indústria automotiva mundial, caminhará nessa direção, a indústria vai ter de produzir mais, terá de se modernizar e virá com mais entusiasmo para o Brasil porque lá fora não há muitas opções.

O Brasil é o quinto maior consumidor, mas apenas o sétimo na lista de produtores. No primeiro semestre, o Brasil importou US$ 5,2 bilhões em automóveis: 46,3% mais que no mesmo período do ano anterior. Já as exportações tiveram queda de 7,8%. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o governo quer fazer com que o país chegue à quarta posição entre os produtores. Para o governo, de 12 a 15 empresas estarão habilitadas a ficar com o imposto atual. Mas ele não sabe quantas empresas ficarão de fora:

— O Brasil passou a sofrer o assédio da indústria internacional. O consumo de veículos está aumentado, mas essa expansão está sendo preenchida pelas importações. Existe o risco de exportarmos empregos para o exterior.

Enquanto os ministros explicavam as medidas, o presidente da Associação das Empresas Importadoras de Veículos (Abeiva), José Luiz Gandini, tentou interromper a entrevista coletiva, ontem à noite, mas foi impedido pelo próprio Mantega. Depois ele falou aos repórteres que queria perguntar a Mantega o motivo da medida, já que os 18 mil carros importados por mês pela associação representam apenas 6% do mercado nacional. E as montadoras com fábricas aqui, segundo ele, importam três vezes mais.

— Isso que eu acho um absurdo. Já que é para proteger o emprego de brasileiro, como se está falando aqui, por que vamos beneficiar os trazidos pelo Mercosul ou do México? — questionou Gandini.

O diretor jurídico da associação, Paulo Rosenthal, foi além:

— Isso é lobby da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos).

Para o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, não haverá mudança para o consumidor, só para a indústria.

— É um caminho importante que vai sem dúvida nenhuma fortalecer a indústria nacional.

Para o presidente da Abeiva, a medida fere os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC). Por isso, a associação não descarta recorrer à Justiça.

O economista Ayrton Fontes, consultor da agência de varejo automotivo M Santos, diz que o aumento do IPI para carros importados atinge principalmente as sulcoreanas e chinesas no país.

Segundo ele, as sul-coreanas (Kia, Hyundai e SsangYong) e chinesas (Chery, JAC e Lifan) já respondem por uma fatia de 2% a 3% do mercado nacional, contra 0,5% há dois anos:

— Isso é um lobby das quatro maiores montadoras (Fiat, Ford, GM e Volkswagen), por causa do crescimento das asiáticas no país.

Peugeot estuda abrir nova fábrica no Rio

Já a PSA Peugeot Citroën está em conversas com o governo do Estado do Rio para ampliar investimentos em Porto Real. O grupo estuda a construção de uma nova fábrica. E a empresa francesa já investe R$ 1,4 bilhão na ampliação de sua atual fábrica, onde a produção passará de 29 carros por dia para 42. Carlos Gomes, presidente da montadora para o Brasil e América Latina, disse que o objetivo é crescer:

— Em agosto, as vendas desaceleraram. Para o ano de 2011, reduzimos a nossa projeção de vendas, que caiu de 200 mil para 190 mil unidades — disse Gomes, ressaltando que as vendas cresceram 10% entre janeiro e agosto, acima do mercado (7%).