Com baixa contábil bilionária, Petrobrás tem prejuízo recorde de R$ 34,8 bilhões

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A Petrobrás fechou o ano de 2015 com o pior resultado de sua história, um prejuízo de R$ 34,8 bilhões. A companhia atribuiu o resultado a uma revisão, em volume recorde, no valor de ativos e investimentos, afetados principalmente pela queda nas cotações internacionais de petróleo, que geraram uma baixa contábil de quase R$ 49 bilhões.

O resultado surpreendeu analistas, que esperavam uma perda máxima de R$ 9,7 bilhões. O prejuízo em 2015 foi 61% maior que o verificado em 2014, quando o balanço ficou negativo em R$ 21,6 bilhões, com a empresa reconhecendo prejuízos com o esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato – no balanço de agora, não há novas perdas com a operação reconhecidas. Com o segundo resultado negativo, a petroleira disse que não pagará dividendos aos acionistas nem participação nos lucros aos funcionários.

Apesar do número ruim, o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, ressaltou a “capacidade de resiliência da empresa, com avanços significativos no resultado operacional”. “O balanço demonstra um esforço de transparência e resgate da credibilidade da companhia”, disse. A expectativa, segundo ele, é que a Petrobrás retome a normalidade no período de quatro a cinco anos.

Ao todo, nos dois últimos anos, a estatal já registrou uma revisão de R$ 93 bilhões no valor de ativos e projetos. No balanço de 2015, as baixas contábeis foram concentradas nos projetos da área de Exploração e Produção (77%), relacionados com a queda nas cotações internacionais de petróleo.

Entre os ativos, o destaque foi a revisão de R$ 8,7 bilhões no campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos. Segundo a diretora de Exploração e Produção, Solange Guedes, o campo “não atendeu às expectativas da empresa”. Também houve baixa contábil em outros campos no País e no exterior, além de revisão no valor de sondas e equipamentos de produção. Ao todo, a área de E&P teve prejuízo de R$ 13 bilhões em 2015, ante um lucro de R$ 32 bilhões em 2014.

A estatal ainda revisou valores registrados para projetos questionados, como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que já consumiu US$ 14 bilhões e é um dos principais alvos de investigação da Polícia Federal. O projeto registrou baixa contábil de R$ 5,3 bilhões e foi postergado para 2023 – a última previsão era concluir neste ano.

“É uma estratégia das empresas aproveitar um ano ruim para incluir todos os prejuízos. Mas, efetivamente, a Petrobrás está perdendo valor. A realidade da empresa é muito diferente do que se divulgava alguns anos atrás”, disse Walter De Vitto, da consultoria Tendências. “É um passo dentro de um processo de muitos anos.”

Estatal prevê redução dos investimentos este ano

A direção da Petrobrás afirmou que, não fosse a baixa contábil de ativos e de investimentos, de R$ 49,7 bilhões, e a pressão do dólar sobre o endividamento, a empresa teria fechado o ano com lucro de R$ 13,6 bilhões. Além disso, em 2015, diante do cenário nacional adverso, a empresa ainda pagou a conta do pessimismo dos investidores com as estatais brasileiras, o que levou a um acréscimo nas despesas com juros, segundo o presidente da companhia, Aldemir Bendine. Para compensar o mau momento, a Petrobrás vai investir menos neste ano.

“Não fechamos o nosso plano de negócios novo, mas, provavelmente, haverá uma ligeira redução (do investimento). No ano passado, foram US$ 23 bilhões. A gente prevê um valor um pouco menor em 2016. Mas ainda não temos esse número fechado”, afirmou Bendine. O executivo também defendeu o plano de vender US$ 14,4 bilhões em ativos neste ano, apesar do cenário político desfavorável. “Continuamos tocando a empresa com foco no que imaginamos para ela. O País tem instituições sólidas. Vivemos em um processo democrático bem estabelecido. Não cabe à empresa ficar se preocupando”, pontuou Bendine.

Captações. O prejuízo registrado em 2015 não terá efeito na estratégia da companhia de só ir a mercado atrás de captação se houver uma oportunidade que permita ampliar o prazo de pagamento ou pagar menos juros, disse Bendine. O executivo destacou o fluxo de caixa positivo do último ano – o primeiro em oito anos.

Segundo ele, o saldo de caixa de R$ 15,6 bilhões deverá ser usados para abater o alto endividamento, que fechou o ano em R$ 392 bilhões – alta de 39% em relação a 2014. A alavancagem, indicador que mede a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa, ficou em 5,31 vezes, o dobro da meta de 2,5 vezes estabelecida.

Bendine admite, porém, uma mudança de rota na política de preços de combustíveis, que poderão cair se a concorrência de importadores ameaçar a posição de mercado da companhia.

O Estado de S. Paulo

André Magnabosco, Antonio Pita, Fernanda Nunes, Gabriela Mello, Mariana Durão e Mariana Sallowicz