Combustíveis: Não somos os vilões da história!

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Desde o anúncio da queda do preço da gasolina e do óleo diesel nas refinarias, no dia 14 de outubro, os revendedores de combustíveis têm sido alvo de grande pressão por parte da opinião pública que quer produtos mais baratos na bomba. Esta não é a primeira vez que sobra para o dono do posto explicar para o consumidor o porquê de o mercado não ter seguido as previsões da Petrobras.

Neste caso, a redução anunciada era de 3,4% para a gasolina e 2,7% para o diesel nas refinarias; e de 1,4% na gasolina e 1,8% no diesel vendido no varejo, o que representaria quase R$ 0,05 por litro em ambos os casos. Quem errou? A Petrobras, as distribuidoras ou os postos?

O que não vem sendo dito pelas autoridades é que o preço dos combustíveis no Brasil é livre desde 2002. Por isso, o presidente da Petrobras não poderia afirmar o valor exato da queda ou aumento dos preços nas bombas. Não há tabelamento e nada que obrigue a distribuidora ou o revendedor a praticar a projeção calculada pela Petrobras.

A nova estratégia da estatal de acompanhar mensalmente a cotação internacional do petróleo é vista, neste momento, como positiva pelo consumidor porque a revisão dos valores implicou queda do preço. Mas e quando o barril do petróleo subir? Entre 2011 e agosto de 2014, o produto foi comercializado entre US$ 100 e US$ 120 dólares. Na cotação do dia 19 deste mês, chegou a US$ 52.

Lógico que existe, sim, o interesse do mercado em recuperar suas vendas e, para isso, tornar seu produto mais atrativo pelo preço mais baixo. É a melhor ferramenta de marketing. Mas como reduzir R$ 0,05 no diesel ou na gasolina se o posto pagou o mesmo valor pelo produto ou, o que é ainda pior, recebeu novo pedido com acréscimos?

Hoje, a gasolina vendida no País tem 27% de etanol anidro. Entre 16 de setembro e 21 de outubro, a cotação do anidro subiu 19,29%, passando de R$ 1.7671 para R$ 2,1081, o litro. Estamos na entressafra da colheita da cana de açúcar e o impacto direto é no preço do produto vendido pelas usinas.

Outra situação que preocupa é o custo final do óleo diesel. No último leilão de biodiesel, promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), as distribuidoras adquiriram o biocombustível 19% mais caro em relação ao leilão anterior. Nos próximos dias esse aumento deverá ser repassado para o custo do óleo diesel, que recebe a adição de 7% de biodiesel.

A máxima que vale para o setor é de que o preço é livre em todos os elos da cadeia. Apesar do quase monopólio da Petrobras na produção de gasolina e diesel, as importações pelas grandes distribuidoras mais que dobraram. Em setembro, as companhias trouxeram 850,5 milhões de litros de diesel de fora. Em janeiro, as importações chegaram a 360,5 milhões.

Já com relação à gasolina, foram importados 203,3 milhões de litros em setembro quando no primeiro mês do ano não se tinha notícia do produto no mercado externo. Mesmo com a importação a um custo mais baixo, as distribuidoras não ofereceram o produto mais barato para a revenda. A Petrobras baixou o preço na refinaria, mas não considerou o impacto dos demais insumos que compõem o preço final dos produtos. O varejo, por sua vez, se mantém balizado na concorrência acirrada.

Salientamos que, embora o posto não seja obrigado a repassar o desconto, ele é o maior interessado em reduzir o preço para atrair o cliente. É equivocada a visão de que o dono do posto se ‘apropriou’ dos R$ 0,05 anunciados pela Petrobras.

Por fim, os preços do etanol, tanto anidro como hidratado, e do diesel continuaram subindo em Mato Grosso durante a semana passada (24 a 30/10). Por conseguinte esse aumento também vai alcançar a gasolina.

José Camargo Hernandes é presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Santos e Região.

Aldo Locatelli é presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso.