Dificuldades no comércio de combustíveis podem agravar desemprego

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A alta do dólar, que atingiu na quinta-feira (24) sua maior cotação desde a criação do real, vai trazer dificuldades para o setor com maior número de funcionários por estabelecimento do varejo brasileiro: os combustíveis e lubrificantes.

“O varejo entrou no vermelho em termos de geração de vagas. Fecharam 43 mil vagas nos últimos 12 meses. No segmento de combustíveis e lubrificantes ainda há alguma geração. Foram criados mais 6.600 postos de trabalho, um pequeno aumento de 1,8%”, analisa Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional de Comércio, Bens e Serviços (CNC).

“Mas, caso a venda continue a cair, pode ser que o setor acompanhe a tendência do varejo e comece a demitir mais do que contratar também”, explica.

O processo é preocupante quando se leva em consideração os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na sexta-feira (25) pelo Ministério do Trabalho, indicando que as demissões superaram as contratações em 86.543 em agosto, pior resultado para este mês desde 1995.

As dificuldades do setor de combustíveis e lubrificantes devem afetar ainda mais o quadro de poucas oportunidades no mercado de trabalho. “No ano passado, esse segmento do varejo gerou 12.200 postos. A previsão é de que, ao final de 2015, sejam aproximadamente 2.500 postos. Esse ano tem sido o pior ano do varejo em geral em pelo menos uma década. As vendas, de modo geral, estão caindo 6,5% no acumulado do ano, queda muito mais forte do que a registrada no ano passado, que foi de 1,6%”.

A alta do dólar faz com que os problema do setor se acentuem, já que parte do combustível consumido no Brasil é importado. “Enquanto o dólar sofrer desvalorização e novos reajustes de preços não forem autorizados, o problema de margem tende a se acentuar. Por outro lado, se houver reajuste, há impacto sobre as vendas. A previsão é de um período difícil para o segmento”.

O setor é o mais afetado em termos de queda de vendas: houve diminuição de 3,3% em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a julho). Nesse período, é o pior desempenho do setor desde o ano de 2006, quando a perda foi de 10%.

“O principal problema das vendas nesse segmento tem sido o comportamento dos preços. A inflação média no varejo desse período tem ficado em 6,4%. A inflação dos combustíveis e lubrificantes medida pelo IBGE é de 9,1%, a inflação mais alta dos dez segmentos do varejo”, analisa Bentes. “No passado o problema foi o custo, agora é a receita. A economia está encolhendo, a perspectiva é de 3% de encolhimento do PIB esse ano. A circulação de pessoas e mercadorias diminui, derrubando a receita”.

Jornal do Brasil