Diminui ganho da Petrobras com venda de combustível

em

A Petrobras teve nos últimos seis meses ganhos com a venda de combustível no mercado doméstico, mas esse cenário pode ser revertido em breve, quando deve ser testada a tese de que a estatal passou a ter maior independência na definição de preços depois que Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda, explicam analistas. Nas últimas semanas, o preço do petróleo nos mercados internacionais voltou a subir, mas esse movimento ainda foi parcialmente compensado pela valorização do real no período.

Com isso, o preço da gasolina no mercado doméstico — que chegou a ficar 62% mais cara do que no exterior em janeiro — foi apenas 4% maior em abril, na média até o dia 21. No diesel, que corresponde a cerca de um terço do faturamento da estatal, a vantagem caiu menos, de 61% em janeiro para 25% em abril, segundo as contas da GO Associados. Para Fabio Silveira, diretor da consultoria, a situação melhorou para a estatal do ponto de vista operacional, mesmo que o ganho hoje seja menor do que há algumas semanas. “Isso ajudou na valorização das ações nas últimas semanas”, diz.

Alguns economistas, porém, veem a evolução com mais preocupação. De acordo com dados mais recentes, essa diferença diminuiu ainda mais nos últimos dias, especialmente para o diesel. Tomando como base os preços dos combustíveis no Golfo do México e nas refinarias brasileiras, a vantagem para a Petrobras no dia 21 de abril era de 13,5% no diesel e de 4,6% na gasolina, avalia Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria.

Para Vitto, como a Petrobras ainda não está perdendo com a venda de combustíveis, é pouco provável que algum aumento de gasolina ou diesel ocorra em 2015. O ganho, porém, é insuficiente para reverter as perdas registradas no passado. Considerando o período de maio de 2008, último aumento antes da crise internacional, até o dia 21 deste mês, a Petrobras tem perda média de 3,5% com a venda de gasolina e de 2,9% com o diesel. O período compreende anos em que houve forte ganho, como 2009 e 2010, e períodos de perda mais acentuada entre 2011 e 2014. “Se a Petrobras mantivesse vantagem de ao menos 10% ao longo de 2015, esse cenário poderia ser revertido, mas o petróleo subiu antes do que esperávamos e o câmbio desvalorizou muito mais rápido”, comenta.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), calcula que entre novembro e abril, a Petrobras recuperou apenas R$ 7 bilhões dos R$ 60 bilhões de prejuízo acumulado com a venda de combustível mais barato no Brasil entre 2011 e 2014. Esse ganho recente, ressalta o analista, não foi resultado de mudança na política de preços da estatal, mas de “sorte” com uma conjuntura favorável que não deve se manter no médio prazo. “O barril de petróleo caiu muito, o câmbio estava menos desvalorizado, mas esse cenário já começou a mudar”, afirma. Nas contas do CBIE, a vantagem da Petrobras na quarta-feira estava em apenas 0,6% no caso da gasolina e em 12,1% no diesel.

Pires critica o fato de que o governo usou a gasolina para aumentar arrecadação, com a volta da Cide, sem que haja clara política de preços de combustíveis. “Não sabemos se a estatal continua a ser instrumento de política econômica”.

Celson Plácido, estrategistachefe da XP Investimentos, também vê uma conjuntura que tende a ficar menos favorável para a companhia. A cotação externa do diesel, nota, subiu mais de 11% em abril. “Se o real tivesse se mantido estável, haveria defasagem no preço doméstico”, diz. Em sua avaliação, como a tendência é de desvalorização da moeda doméstica, dificilmente os ganhos da Petrobras vão se manter no médio prazo.

Plácido, porém, praticamente descarta aumentos de combustíveis no curto prazo, por causa de pressões políticas. Além do forte impacto sobre a inflação, que já supera 8%, a greve de caminhoneiros, por exemplo, deve inibir aval do Planalto para um reajuste.

Valor Econômico