Distribuição de gasolina está no limite

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O porcentual de aumento da venda de combustíveis este ano será seis vezes maior que o do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas do País. O descompasso, que vem ocorrendo desde 2006, alcançará este ano a maior disparidade.
 
Segundo estimativa do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), a alta nas vendas será de 6,3%, enquanto a economia deverá crescer apenas 1%, na média das projeções do mercado, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central (BC). 
 
A combinação de superaquecimento do consumo e deficiências logísticas cria dificuldades para garantir o fornecimento e já preocupa a Petrobrás. A ponto de a estatal ter alterado os contratos com as empresas distribuidoras, segundo o presidente do Sindicom, Alisio Vaz. 
 
"Não lembro de um PIB tão pequeno com venda de combustíveis tão elevada", disse ontem Vaz, ao divulgar as projeções das distribuidoras para 2013. O Sindicom listou uma série de fatores para explicar a falta de sintonia: renda em alta, aumento da frota da veículos e a política de preços do governo, que impede reajustes ao consumidor final. 
 
Com o crescimento do consumo de combustíveis, o Sindicom alerta que o abastecimento do mercado nacional está no limite. Mas, deixa claro que não há desabastecimento no País. 
 
Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, destacou o aumento da renda e os preços congelados. Segundo ele, a previsão é de alta de 6% na massa salarial neste ano. "O preço está estável e a renda, subindo. O consumidor aproveita para abastecer mais mesmo", disse o economista. 
 
Com o rápido crescimento da demanda, o Sindicom não fala em desabastecimento, mas em "restrições" e "estresse" no abastecimento - houve falta generalizada apenas no Amapá. As restrições são causadas pelo aumento da importação da gasolina e de óleo diesel e pela queda nas vendas de etanol hidratado, num contexto em que a produção da Petrobrás está "no limite". 
 
Com a produção apertada, as importações crescem e evidenciam gargalos na infraestrutura dos portos. As refinarias estão no limite da capacidade e "polos alternativos" para entrega são usados. Esta mudança de local dificulta a logística. A importação pressiona a estrutura dos portos, principalmente no Norte e Nordeste, aonde o combustível chega por navio. 
 
Mais prazo. Diante dos gargalos, segundo o Sindicom, a Petrobrás começou, em setembro, a ampliar o prazo de entrega de combustível para seus distribuidores no Nordeste e Norte. Desde maio, há negociações para os distribuidores assumirem parte da armazenagem. O aumento nos prazos é uma forma de incentivar a armazenagem. 
 
Em novembro, diretores da Petrobrás ressaltaram mais de uma vez que não haveria desabastecimento. Um fonte da companhia disse ao Estado que a Petrobrás seria mais rigorosa nos contratos com os distribuidores. 
 
Ontem, em nota, a Petrobrás negou ter alterado prazos nos contratos. 
 
Pela manhã, Vaz disse que o setor aprova a estratégia de investir em estoques, de olho em maior flexibilidade para atender ao mercado, mas precisa de tempo para se preparar. Em 2012, as empresas do Sindicom investirão R$ 1 bilhão. 
 
Para ele, é possível aumentar a capacidade de armazenagem em de 20% a 50% - dependendo da região - se esse ritmo de investimentos for mantido pelos "próximos anos". "Nossa preocupação não é com dinheiro, mas com tempo", afirmou.

O Estado de S. Paulo