Europa alcança Brasil em consumo de biocombustíveis

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Com subsídios de R$ 45 bilhões ao ano, a Europa já se iguala ao Brasil em consumo de biocombustível e, em dois anos, vai superar o País como um dos maiores mercados para as fontes alternativas de energia no mundo. Segundo as estimativas da Comissão Europeia, o setor ainda tem proporcionado o “crescimento mais dinâmico” na agricultura do continente, justamente para fornecer insumos para essa expansão do biocombustível.Mas enfrenta críticas cada vez mais duras por parte de ativistas e ambientalistas.
 
Há dez anos, os produtores brasileiros – considerados os mais eficientes na produção de etanol – percorriam a Europa tentando incentivar o Velho Continente a adotar os biocombustíveis como uma alternativa ao petróleo. O objetivo era criar um mercado global de commodities e, claro, tornar-se o principal fornecedor do mundo. Naquele momento, o consumo e produção nos países europeus eram praticamente nulos. Hoje, a realidade é bem diferente.
 
Informe da Comissão Europeia, obtido com exclusividade pelo Estado, mostra a transformação do setor nos últimos dez anos e aponta que, até o fim da década, as taxas de consumo americano e europeu estarão acima da demanda do Brasil.
 
Os dados mostram que, até o início da década de 2000, o Brasil era o maior mercado consumidor do biocombustível, com 7milhões de toneladas. A segunda posição era dos Estados Unidos, com consumo de 4 milhões de toneladas. A Europa praticamente não tinha mercado. Em 2003, veio a primeira mudança: os Estados Unidos superaram o Brasil. Desde então, a expansão do consumo americano tem sido bem mais rápida que a do Brasil.
 
Nos últimos anos, o mercado brasileiro foi fortemente atingido pela política de congelamento do preço da gasolina, que tornou o biocombustível menos atraente nas bombas. O consumo, que em 2010 superou o da gasolina, recuou e o setor entrou numa crise sem precedentes, com recuo dos investimentos.
 
Sem uma política setorial, o Brasil perdeu espaço como o maior e mais eficiente produtor mundial de biocombustível. Pior: teve de importar etanol americano. Em 2012, o País consumia 14 milhões de toneladas e os Estados Unidos, 28 milhões. Até 2022, a diferença atingirá 31 milhões de toneladas. Os europeus também deverão superar o consumo brasileiro já em 2015.
Para 2022, o consumo será até 20% superior ao brasileiro.
 
Metas. Em 2012, 380 usinas estavam em operação na Europa, boa parte delas recebendo subsídios de cerca de € 17 bilhões ao ano (no Brasil não há subsídio). Na avaliação dos europeus, o que está conduzindo a transformação dos biocombustíveis é o fato de que, em 2009, as novas diretrizes energéticas do bloco entraram em vigor e estipularam que, até 2020, 20% da energia terá de vir de fontes renováveis. Como parte dessameta,governos teriam de estabelecer que o biocombustível deveria representar 5% de seu mix energético para o transporte.
 
A Comissão Europeia admite que a meta não será atingida. Um dos motivos é a demora para se pôr no mercado o etanol de segunda geração, evitando o uso de produtos agrícolas para sua fabricação. Hoje os produtos de segunda geração correspondem a apenas 0,1% do consumo. Ironicamente, tem sido o fracasso nesse desenvolvimento que tem criado um verdadeiro boom para a agricultura europeia, justamente para fornecer insumos aos biocombustíveis.
 
A expansão nos últimos anos chegou a fazer a Europa colocar, em setembro, um teto para o uso de alimentos na produção de etanol. Pela nova lei, apenas 5% do combustível de carros virá de alimentos até 2020. A proporção de terras de plantação de beterraba usadas em usinas não poderá passar de 10% do total do produto, o mesmo índice usado como teto para os cereais.
 
Se, enfim, conseguir pôr de pé uma política delongo prazo para o setor, o Brasil poderá se beneficiar das restrições e exportar o
biocombustível como sempre sonhou. Uma das vantagens do País é a grande quantidade de terra agricultável disponível. Outra saída é sair na frente no etanol de segunda geração – algumas empresas já começam a produzir o combustível em escala comercial. Mais uma vez, o Brasil tem a chance de voltar a ter um papel relevante no mercado. Só não pode perder tempo.
 
O Estado de S. Paulo