Ex-diretor da ANP pede preço real para gasolina

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O ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo e sócio-diretor da DZ Negócios com Energia, David Zylberstajn, criticou a forma como o governo lida com a questão do combustível e como isso penaliza a Petrobras. Para ele, estímulos ao setor automobilístico com crédito e desoneração e o subsídio à gasolina são venenos que minam a saúde financeira da estatal.
 
"Quando o governo resolveu por desígnios próprios estimular o setor automobilístico, incentivando o crédito na desoneração e ao mesmo tempo subsidiou a gasolina, houve uma explosão no consumo de gasolina. E no caso do combustível alternativo houve um desestímulo ao uso do etanol. Se você pega os indicadores de crescimento de gasolina comparado ao crescimento do PIB é uma coisa absurda o que aconteceu", disse Zylberstajn, em entrevista ao Brasil Econômico.
 
Para ele, a Petrobras, além dos problemas na produção, já anunciados pela própria presidente Graça Foster, amarga a equação complicada de vender o combustível a um preço menor.
 
"A questão é aritmética, não tem muito o que discutir. E isso para uma empresa é dramático. Dívida não mata uma empresa. O que mata uma empresa é fluxo de caixa. A Petrobras está sendo afetada na veia em sua capacidade de gerar caixa. Quando se mistura política com empresa, coisa boa não dá ", sentencia Zylberstajn.
 
Como o sr. vê a situação da Petrobras hoje?
 
A Petrobras é uma empresa que você pode comparar a um grande transatlântico. Não porque ela seja lenta. Uma empresa desse tamanho dá resultados de médio e longo prazo.
 
Há um processo de requalificação da gestão, na minha opinião positivo, tanto em qualificação técnica quanto do esvaziamento da contaminação ideológica que havia no passado, principalmente na área de exploração e produção.
 
O que afetou mais a empresa?
 
O que a gente está vendo hoje é uma empresa como a Petrobras que por muito anos teve uma coisa chamada relação reserva-produção com os melhores indicadores do mundo revertendo essa posição.
 
Hoje, a produção está estabilizada e decrescente. E a própria presidente da Petrobras, Graça Foster, fala que provavelmente a produção vai cair esse ano.
 
Alguma coisa está errada. Mais ainda quando se está achando petróleo, há uma série de bacias para ser exploradas. Então, na minha opinião houve uma reversão positiva na qualidade do Management da empresa. Mas tem uma fator exógeno que é a questão do combustível.
 
De que forma?
 
Quando o governo resolveu por desígnios próprios estimular o setor automobilístico, estimulando o crédito na desoneração e ao mesmo tempo subsidiou a gasolina, houve uma explosão no consumo de gasolina. E no caso do combustível alternativo houve um desestímulo ao uso do etanol.
 
Se você pega os indicadores de crescimento de gasolina comparado ao crescimento do PIB é uma coisa absurda o que aconteceu. A Petrobras teve problemas de produzir. Depois, de logística e principalmente o custo do combustível que ela vende é menor do que o valor que ela compra. A questão é aritmética, não tem muito o que discutir.
 
E isso para uma empresa é dramático. Dívida não mata uma empresa. O que mata uma empresa é fluxo de caixa. A Petrobras está senso afetada na veia em sua capacidade de gerar caixa.
 
A Petrobras está vendendo combustível mais barato do que compra. É uma situação inusitada. Quando se mistura política com empresa, coisa boa não dá.
 
E o plano de investimentos da empresa?
 
A Petrobras tem um plano de investimentos ousado, tem uma licitação de campos novos em maio que vamos chamar de campos mais 'convencionais'. Ela vai ter que ter 'bala' para entrar nessa história.
 
Não sei como a Petrobras vai assumir um leilão do pré-sal com obrigações de no mínimo 30% do investimento dos campos licitados. Isso é um cálice de veneno para a Petrobras e para o país.
 
Há algum risco de a Petrobras não estar presente nestes leilões? 
 
Para aparecer o dinheiro, a Petrobras precisa arrecadar mais diretamente ou tem que se financiar. Só que na conjuntura atual, para ela se financiar, vai custar cada vez mais caro emprestar para a Petrobras.
 
Qual é a consequência disso?
 
Você cria um ciclo perverso para a Petrobras. Ela precisa de mais dinheiro para aumentar a produção. O governo deveria elevar o preço da gasolina ao valor real.
 
Onde você tem preços subsidiados, caso dos países do Oriente Médio e também a Venezuela, você tem as piores economias do mundo. Tem saídas com políticas de governo. Sem quebrar a Petrobras.
 
Mas o sr. acha que a Petrobras quebra?
 
Quebrar, não quebra porque o governo vai lá e 'pum', faz outra capitalização. Mas não faz sentido isso. Nenhuma empresa de petróleo está perdendo dinheiro. Só a nossa.
 
Se fosse um momento crítico com o barril a um preço como esteve a US$ 15, US$ 18, a margem era microlésima. A Petrobras está tendo lucro aquém do que ela tinha. E isso é perder dinheiro.
 
O setor de petróleo e a Petrobras poderiam estar em outro patamar?
 
O bom é o dinheiro do petróleo e o que ele gera para o país. Hoje poderíamos esta gerando riqueza em uma quantidade enorme se o mercado não fosse regulado. O Brasil está sofrendo disso e a dona Graça Foster está sofrendo disso
 
É uma bomba na mão da presidente da Petrobras, na sua avaliação?
 
Eu acho que sim, entregaram. Mas ela ao mesmo tempo está ficando muito competente em desarmar a bomba. Não desarmou totalmente mas deu um freio no curto prazo.
 
Mas a bomba está lá. E é natural e visível a angústia dela. Para botar a empresa em ordem ela usa eufemismos como 'a convergência de preços'. Ela está certa. Mas agora é duro para uma empresa de petróleo dizer que vai ser um ano ruim quando todos as outras estão com um ano bom...
 
A melhor defesa dela é ser transparente e ela está super certa nisso. É o único jeito, inclusive para que ela tenha credibilidade junto ao investidor. Acho que ela gera credibilidade.
Brasil Econômico