Exportação de petróleo cai 46% e eleva déficit comercial

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Nos primeiros cinco meses do ano, o segmento de petróleo e derivados vendeu menos ao exterior e aumentou as importações, tornando-se um dos principais responsáveis pelo déficit da balança comercial. Produção menor, principalmente no primeiro trimestre, paralisação de algumas plataformas para manutenção e aumento do consumo interno fizeram com que as exportações do setor caíssem 46% na comparação com o mesmo período de 2012. O recuo "tirou" US$ 5,6 bilhões da conta das exportações totais brasileiras. Esse valor supera o déficit total de US$ 5,39 bilhões verificado até o fim de maio no total da balança comercial do país.
 
Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, isolado o petróleo, as exportações totais do país cresceram 1,5% de janeiro a maio, ao invés da queda de 2,8% verificada no período. O desempenho da indústria petrolífera no comércio exterior também foi sentido no Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com números do IBGE, no acumulado de janeiro a abril deste ano, a indústria extrativa encolheu 6,5% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a indústria de transformação cresceu 2,1% na mesma comparação. A produção de petróleo caiu menos em abril, mas a previsão é que se recupere com mais força no segundo semestre.
 
A trajetória do setor é fundamental para explicar o comportamento da balança comercial neste ano em relação a 2012, segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Sem petróleo e derivados nas duas pontas (exportação e importação), o país teria este ano um superávit comercial de US$ 5,3 bilhões, semelhante aos US$ 5,2 bilhões do ano passado, também descontado o segmento de petróleo.
 
Somente com registros atrasados de importações realizadas em 2012, o ministério informou que foram adicionados US$ 4,5 bilhões referentes a petróleo e derivados na importação total deste ano. Sem contar os registros relativos ao ano passado, o saldo da balança comercial de petróleo e derivados ficou com déficit de US$ 7,3 bilhões até maio. "Os atrasos explicam parcialmente o déficit. Os preços de venda caíram um pouco em relação ao ano passado, mas há um problema maior, que é a quantidade exportada, muito reduzida por fatores internos", diz Castro.
 
Esses fatores estão relacionados à produção de petróleo no país. Comparando a produção da Petrobras nos três primeiros meses do ano com o mesmo período do ano passado, a estatal registrou queda de 7% em janeiro, 8,5% em fevereiro e 7,4% em março. Em abril houve certa recuperação e o volume de petróleo extraído pela empresa foi 1,5% menor que em abril de 2012.
 
Poços maduros na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, produziram menos, e o mesmo aconteceu com plataformas em Santos. Segundo a Petrobras, a produção dos poços maduros cai cerca de 10% a cada ano. Paradas programadas em fevereiro, março e abril para a manutenção de plataformas localizadas na costa da região Sudeste também contribuíram para a retração.
 
Luciano Losekaan, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, afirma que o lado da demanda também tirou espaço da exportação de petróleo e derivados. De janeiro a março, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) registrou aumento de 3% no consumo de derivados de petróleo em relação ao mesmo período do ano passado.
 
"A Petrobras está muito mobilizada em outros investimentos, como para a exploração do pré-sal, e tem pouca margem de manobra para recuperar a produção. Abril, por exemplo, foi recorde em venda de veículos. Isso vai seguir pressionando a demanda, enquanto a oferta nacional continua estagnada", diz o pesquisador da UFRJ.
 
A queda na produção de petróleo, contudo, já era esperada pelo mercado, de acordo com Emerson Leite, analista do Credit Suisse. "As manutenções foram planejadas. Elas servem para aumentar a produção das plataformas", diz. Segundo Leite, a partir do segundo semestre a produção deve subir em relação ao ano passado. "Neste ano, nós estávamos já prevendo que isso iria acontecer: no primeiro trimestre, a produção iria sofrer um pouco, no segundo trimestre ela não será grande coisa, e depois vão começar a ser registrados volumes médios de extração de barris mais relevantes."
 
Valor Econômico - 10/06/13