Governo não vai controlar preço da gasolina, diz Parente

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Em recado direto aos investidores da Petrobrás, o novo presidente da companhia, Pedro Parente, assegurou que não haverá interferência do governo na gestão de preços dos combustíveis. Em entrevista após tomar posse ontem, no Palácio do Planalto, Parente disse que a decisão sobre preços será de “natureza empresarial”.

Parente frisou que a interferência política na estatal não existe mais. “Já acabou”, afirmou, ao responder de forma bem sucinta a uma pergunta depois da cerimônia. Segundo ele, a orientação do presidente em exercício Michel Temer é de que a empresa tenha uma gestão profissional e sem interferência do governo.

A posse do presidente da Petrobrás ocorreu numa cerimônia conjunta na qual também foram empossados os novos presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Maria Silvia Bastos Marques; do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli; da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, e do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Ernesto Lozardo.

Para identificar a escolha dos novos executivos com o esforço de traçar uma agenda positiva na economia, o presidente em exercício Michel Temer recomendou aos presidentes que as instituições oficiais sejam um braço do governo para a retomada da atividade.

A posse ocorreu depois de anunciada a retração de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, que marca dois anos de recessão no País, e os executivos saíram com o discurso afinado de que os bancos oficiais continuarão agindo em apoio aos projetos do governo de reativação da economia. A meta no momento é sair da recessão e estancar o avanço do desemprego.

Enquanto o discurso dos presidentes dos bancos públicos foi em direção ao alinhamento com o governo, o da Petrobrás procurou desvencilhar dos projetos da companhia a interferência do Planalto. Ao descartar uma nova capitalização, Parente deixou claro que a petrolífera terá de resolver seus problemas sem a ajuda do Tesouro. De acordo com dados divulgados pela estatal, no primeiro trimestre deste ano o endividamento total ultrapassava R$ 450 bilhões, sendo R$ 62 bilhões com vencimento no curto prazo.

Para Parente, a solução da crise passará necessariamente pela venda de ativos. “Vocês conhecem a situação do Tesouro e ouviram o presidente Temer falar que existe um déficit da ordem de R$ 170 bilhões. Como é que a empresa poderia contar com o Tesouro numa situação como essa?, argumentou. Ele evitou fazer previsões de reajuste dos preços dos combustíveis e não quis dar detalhes do plano de ação à frente da companhia.

“Não vou responder a essa pergunta. Vocês podem tentar 50 vezes que eu não vou falar especificamente sobre o que vai acontecer com os preços. Seria irresponsável da minha parte falar isso.” A forte ingerência do governo petista na gestão da empresa e nos preços dos combustíveis foi alvo recorrente das críticas de investidores e contribuiu para a perda de valor que a estatal passou a enfrentar a partir do escândalo das acusações de corrupção reveladas pela Operação Lava Jato.

Operação conjunta. Paulo Caffarelli, do BB, disse que os bancos estão juntos em busca de soluções para o momento econômico do País. “Isso se faz com estímulo à exportação e aumento do crédito para as empresas”, afirmou, em uma curta entrevista. Em seguida, ao Estado, ele explicou que os bancos farão reestruturação, para atrair capital estrangeiro, de operações de infraestrutura com investimentos estimados em R$ 1,5 trilhão.

Já o novo presidente da Caixa, Gilberto Occhi, disse que o governo Temer busca a reversão dos números ruins da economia. “Vamos trabalhar para que sejam retomadas as ações produtivas para que o Brasil possa voltar a crescer. A Caixa vai continuar a ser grande contribuidora dessas medidas.” Segundo Occhi, a ordem é por o “pé no acelerador” para que o banco continue sendo “indutor” do crédito.

“Vamos trabalhar em equipe, acho que vai facilitar muito para conseguirmos o que todos desejam, que é retomada da economia”, disse Maria Sílvia, do BNDES. A devolução de R$ 100 bilhões do BNDES ao Tesouro, anunciada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não deve diminuir o papel do banco de fomento. Segundo ela, as parcelas foram calculadas em conformidade com a expectativa da instituição para desembolsos nos próximos anos.

Occhi disse que vai retomar “imediatamente” as obras de 80 mil unidades do Minha Casa Minha Vida que estão paradas, sendo a maioria destinada a famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil, e de outros projetos que estavam parados no banco com a indefinição sobre quem assumiria a presidência da instituição. Occhi pretende apresentar a Meirelles alternativas para que o banco não precise de injeção de recursos do Tesouro Nacional a curto e médio prazos.

Ele afirmou que a ideia é que a Caixa se concentre apenas na atividade bancária, ganhe eficiência e valorize seus ativos.

O Estado de S. Paulo