Guerra ao dinheiro falso

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Nos últimos 13 anos, a Polícia Federal (PF) apreendeu nada menos que 7,5 toneladas de dinheiro falso no Brasil. Conseguiu desarticular algumas das “criativas” quadrilhas em atuação, mas outras ainda fazem da falsificação um negócio lucrativo. De cada um milhão de notas de real que estão em circulação na economia, 92 não são autênticas. É quase o dobro do número registrado para o dólar e o euro. As duas principais divisas mundiais têm um índice de 50 cédulas falsas por milhão. A meta do Banco Central (BC) é chegar nesse patamar nos próximos dois anos a partir dos itens de segurança das cédulas da segunda família do real.
 
Enquanto as notas com os modernos dispositivos contra falsificação não substituem completamente as antigas, as autoridades têm de lidar com uma máfia articulada de criminosos que montaram um esquema nacional de distribuição de cédulas falsas. PF e BC conseguiram mapear, por exemplo, rotas de distribuição de notas frias pelos Correios para várias regiões do país. Nesse mercado paralelo, cada cédula de R$ 50 custa R$ 20.
 
No ramo de fabricação própria de dinheiro, há ainda iniciativas mais ingênuas. A Polícia Federal prendeu um falsificador em Curitiba que vendia um CD com imagens de alta resolução das notas mais valiosas. Entre os arquivos, havia um passo a passo para a impressão. A invenção foi batizada nos corredores do BC de “faça você mesmo o seu dinheiro”.
 
O chefe do Departamento de Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo, explicou ao GLOBO que as falsificações grosseiras — como a famosa fotocópia — devem acabar em breve. As notas da nova família do real, que ficou completa há duas semanas com o lançamento das notas de R$ 2 e R$ 5 — têm mecanismos de reflexo da luz que distorcem totalmente a imagem numa cópia simples. Por isso, a falsificação de “fundo de quintal” está fadada ao fim. Agora, o foco são quadrilhas com tecnologia de ponta. 
 
— Passamos da era do ‘Homem que copiava’ para a do ‘Prenda-me se for capaz’ — brincou Figueiredo, numa alusão a dois filmes de sucesso. O primeiro, nacional, protagonizado pelo ator Lázaro Ramos, contava a história de um jovem gaúcho que xerocava dinheiro. Já o segundo é a saga de um falsificador internacional, estrelada por Leonardo di Caprio.
 
A expectativa do BC é que com as novas notas, que têm os itens de segurança considerados os mais modernos do mundo, a situação do Brasil deve melhorar no quadro mundial. O índice de falsificação do país já chegou a 206 notas por milhão. Era muito maior que o da libra esterlina, que tem 150 por milhão. O Japão, ao contrário, tem um índice de duas notas de iene por milhão.
 
O novo real tem notas com tamanhos diferentes. Com isso, fica impossível um falsário fazer uma lavagem química para usar o mesmo papel moeda para imprimir uma cédula de maior valor. Além disso, há a marca d’água, o alto-relevo na lateral e ainda um quebra-cabeça com o número.
 
Todas essas mudanças levaram dez anos para sair do papel. A decisão de trocar o dinheiro no Brasil surgiu em 2003, quando a falsificação estava num dos maiores patamares: 197 cédulas por milhão. Era urgente aumentar a segurança e um grupo de dez pessoas começou a fazer os estudos. Os técnicos resolveram manter os desenhos das notas antigas para não descaracterizar a moeda: coisa que acontecia rotineiramente em tempos de inflação descontrolada.
 
O QUE MUDA NA NOVA NOTA
 
ITENS DE SEGURANÇA DA SEGUNDA FAMÍLIA DO REAL
 
> Um “quebra-cabeça” impresso dos dois lados forma a imagem do número do valor da nota se o cidadão olhar a cédula contra a luz
 
> Alto-relevo permite o reconhecimento de forma rápida no momento de contar as cédulas
 
> Microimpressões no papel também dificultam o trabalho dos falsários
 
> Números que mudam de cor conforme movimentamos a nota
 
> Elementos fluorescentes em todo o papel também fazem com que a luz de uma máquina copiadora normal distorça todo o desenho
 
> Marca d’água permaneceu
 
> Fio de segurança foi mantido
 
> O papel é mais firme e tem textura mais áspera para ajudar no reconhecimento ao toque
 
> Faixa holográfica na lateral. Como muda de cor conforme recebe luz, impede que seja feita uma fotocópia simples (somente nas notas de R$ 50 e R$ 100)
 
TAMANHOS DIFERENTES
 
Notas têm tamanhos diferentes para evitar a falsificação por “lavagem química”, quando os bandidos apagavam cédulas de valores baixos e reimprimiam notas muito mais valiosas. Por usar o papel verdadeiro, a cédula mantinha os itens de segurança originais.
 
O Globo - 12/08/13