Importadores de veículos ainda pressionam para mudar regra

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As importadoras de veículos se preparam para um novo round na luta para convencer o governo a alterar o regime automotivo que aumentou a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aplicada a carros importados - com exceção dos modelos trazidos do México e do Mercosul.

No momento em que o governo está reeditando o decreto para acomodar os interesses das montadoras com planos de abrir fábricas no Brasil, a Abeiva - entidade que representa as empresas independentes de importação de veículos - tenta agendar uma reunião com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, mas sem sucesso, por enquanto. "Não há negociação nesse momento. Parece que vamos ser pegos de surpresa novamente", diz José Luiz Gandini, presidente da Abeiva.

Depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu a majoração do imposto, os carros com índice de peças nacionais inferior a 65% voltam a pagar 30 pontos percentuais a mais do IPI a partir do dia 16.

Com a proximidade da data, os importadores independentes de automóveis - os mais afetados pela medida - tentam trazer o debate para uma discussão sobre os prejuízos que o novo regime pode trazer ao consumidor, como reajustes de preços em um mercado já muito concentrado em poucos fabricantes. Sem a concorrência dos estrangeiros, eles argumentam que as montadoras nacionais ficarão com o caminho livre para promover aumentos de preços.

Para sustentar essa posição, um estudo da consultoria IHS Automotive - que faz análises de mercado para a Abeiva - relaciona a trajetória de queda no preço médio dos carros nacionais à entrada de novos competidores externos. O levantamento - que fundamenta as teses dos importadores - também rebate argumentos da indústria nacional de que o mercado brasileiro é um dos mais disputados do mundo, ao mostrar que as vendas no Brasil são concentradas em quatro grandes montadoras.

Mesmo com a entrada de novas empresas e o crescimento das importações, Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford respondem neste ano por mais de 70% das vendas de carros de passeio e veículos utilitários leves. Em 31 países analisados pela IHS, a participação das quatro principais montadoras locais é de 38%, na média. Paulo Cardamone, diretor da IHS, avalia que obstáculos colocados aos veículos importados tendem a fazer com que o Brasil leve mais tempo para acompanhar a tendência mundial de pulverização de mercado.

Segundo ele, o novo regime automotivo, além de ferir as regras de mercado livre, vai contra o processo de globalização da indústria automotiva, no qual carros importados complementam a oferta de produtos nacionais.

"Não é possível produzir no Brasil todos os carros que o mercado demanda", diz o consultor, acrescentando que a regra na indústria de automóveis tem sido buscar a redução de custos com plataformas globais de produção. "Não podemos ser uma ilha."

Além das questões de mercado, a Abeiva quer sensibilizar o governo sobre o impacto social da medida com o argumento de que as importadoras empregam mais de 35 mil pessoas. Fora isso, a entidade lembra que as empresas investiram na estruturação de uma rede de 848 concessionárias, agora sob risco. Com a entrada em vigor do novo regime, a IHS estima que a participação dos independentes nas importações de carros - hoje em 25% - poderá cair pela metade. A maioria das importações é feita pelas próprias montadoras e vem de fornecedores instalados na Argentina e no México, que não foram afetados pelas novas regras.

Valor Econômico