Mais diesel para o agronegócio

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As filas quilométricas de caminhões carregados de soja na entrada dos portos brasileiros são uma imagem bastante conhecida, que expõe duas características da economia do Brasil: o agronegócio segue em forte expansão, mas a infraestrutura de transporte não acompanha esse crescimento. A logística de combustível segue o caminho inverso ao da safra agrícola. Precisa levar derivados produzidos em São Paulo e os importados que chegam por navios para o interior do país. E, quanto mais afastadas dos grandes centros estão as fazendas, maior é a dificuldade para transportar combustível. O problema não é apenas vencer a distância, mas também superar a baixa qualidade da infraestrutura rodoferroviária. Assim, para atender à demanda crescente e contornar esses obstáculos, as distribuidoras têm ampliado bases no interior e construído novas unidades ao longo das ferrovias que vão saindo do papel. A logística mais eficiente também puxa investimentos agrícolas, que, por sua vez, elevam o consumo de combustíveis. O estado com maior avanço do agronegócio é o Mato Grosso. Ano após ano, a área plantada e a produção aumentam. Nos últimos cinco anos, enquanto a área plantada no país cresceu 12%, em Mato Grosso o avanço foi de 43%. E a expectativa é que na safra 2013/2014 o acréscimo seja de mais 6%. Como não poderia deixar de ser, o consumo de óleo diesel no estado seguiu de perto a expansão do agronegócio. No mesmo período de cinco anos, o consumo do combustível no Mato Grosso aumentou 46,6% - com pico de 16,3% de aumento em 2012. Para dar conta disso, o estado passará a contar, nos próximos meses, com novas bases, instaladas em Rondonópolis, no polo intermodal da ALL. O terminal é conectado pelas linhas ferroviárias da empresa à malha paulista. Enquanto escoa a produção agrícola na direção do Porto de Santos, no retorno para o Centro-Oeste transporta outras cargas - entre elas, o diesel. No polo estão sendo construídas bases das três principais distribuidoras do país - BR, Raízen e Ipiranga. Em quarto lugar no market share de combustíveis, a Ale também estuda instalar uma base no local. "As ferrovias pesam bastante na nossa decisão de crescimento, principalmente em Rondonópolis, que é uma fronteira agrícola. Ter uma ferrovia facilitaria bastante as nossas operações", explica Marcos Tanure, diretor-financeiro da distribuidora. Demanda aquecida O consumo do combustível na região Centro-Oeste cresceu 42,4% nos últimos cinco anos. Em termos percentuais, só ficou atrás do Norte, onde, porém, a base de comparação é menor e o diesel é utilizado em larga escala para geração termelétrica. A média do país no mesmo período foi de 30,7%. Esse consumo crescente não deve dar sinais de esgotamento nos próximos anos. "Há uma expectativa de que a área plantada do Mato Grosso dobre em alguns anos. Por consequência, o estado vai consumir mais combustível", acredita Luiz Maurício Leal Vega, gerente regional de Consumidor Centro-Oeste da BR. Na distribuidora, o agronegócio representa cerca de 10% do total de diesel entregue fora do posto de gasolina, direto para grandes consumidores. E a tendência, segundo Vega, é ganhar mais espaço. "Mapitoba" As ferrovias também podem beneficiar o Nordeste. No caminho da ferrovia Norte-Sul, que prevê ligar Barcarena (PA) a Rio Grande (RS), com mais de 4 mil km de extensão, está o polo de Porto Nacional, no Tocantins, que já atraiu a atenção das distribuidoras. O estado, que nunca teve uma base de combustível das quatro maiores do segmento, passou a contar a partir de dezembro passado com a Bapon, da BR. A Raízen também se Instalou no polo, inicialmente de olho na movimentação de diesel, de cerca de 5 milhões de litros/mês.

A região é uma das principais fronteiras agrícolas do país com o avanço da soja. E integra uma área que é conhecida como Mapitoba - abreviação que agrega as siglas dos estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. Neste último, no oeste, a Ale investe para aumentar a movimentação de combustível. Até o fim do ano, a base de Luiz Eduardo Guimarães sairá de uma tancagem de 982 mil litros para 3 milhões de litros. Como nas demais áreas agrícolas, o perfil de consumo é baseado no diesel. O combustível movimenta as máquinas, desde a preparação da terra até a colheita da produção - e também os caminhões que escoam a produção para os portos ou ferrovias. Efeitos indiretos O desenvolvimento do agronegócio leva capital para as regiões mais afastadas dos grandes centros. Com a injeção de recursos e a maior dinâmica da economia, o consumo dos demais combustíveis também sobe. A frota de automóveis de Mato Grosso acompanhou a tendência nacional nos últimos anos e cresceu 67% desde 2008. A taxa per capita aumentou de um carro para 9,1 habitantes para um carro para cada grupo de 5,8 pessoas, em dezembro de 2013. Com o maior número de veículos, o consumo somado de gasolina e etanol também se elevou. O volume anual subiu de 633 milhões de litros, em 2008, para 1,08 bilhão de litros, em 2013 - um salto de 70%.

Revista Brasil Energia