Mais importação de gasolina

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Num cenário de vertiginoso crescimento da frota doméstica de veículos flex e de escalada nos preços do etanol, o aumento da demanda interna por gasolina levará o Brasil a importar volumes cada vez maiores do derivado de petróleo nos próximos anos.

Segundo especialistas, a capacidade do País em suprir a necessidade doméstica do combustível poderá melhorar somente a partir de 2015, quando os investimentos feitos pela Petrobras em ampliação de seu parque de refino começarem a dar seus primeiros sinais. No entanto, mesmo com a construção das novas refinarias, eles avaliam que seguirá tênue a linha existente entre demanda e oferta do gasolina no mercado brasileiro e, diante disso, eventuais compras do derivado no mercado externo poderão, novamente, ser medidas recorrentes.

Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que, em todo ano de 2010, o País importou 505 milhões de litros de gasolina a um custo total de US$ 284,7 milhões. Este ano, já foram importados, de janeiro a julho, 413 milhões de litros, com custo de US$ 330,3 milhões, segundo a mesma fonte.

De acordo com o analista da Geração Futuro Lucas Brendler, os números relativos às compras externas aumentarão ainda mais, diante da decisão anunciada pelo governo que, face à quebra na atual safra de cana e consequente aperto na oferta de etanol, reduzirá a mistura de álcool à gasolina, de 25% para 20%, a partir de 1º de outubro.

"As refinarias em operação no País não estão conseguindo alcançar a demanda do mercado doméstico por gasolina", afirma Brendler, acrescentando que elas já trabalham a pouco mais de 90% de suas capacidades.

Para ele, os dois motivos básicos que explicam o aumento da procura pelo derivado de petróleo são o aumento da frota de veículos e a opção por parte dos consumidores de abastecêlos com gasolina devido aos altos preços do etanol.

"Com o tamanho da frota brasileira de veículos crescendo de 2 milhões a 3 milhões de unidades ao ano, mesmo que a oferta interna de gasolina cresça em termos de volume, a linha entre oferta e demanda seguirá tênue nos próximos anos", acrescenta.

DESCOMPASSO. O analista da Tendências Walter de Vitto lembra que a última refinaria do País foi inaugurada há mais de três décadas (a Revap, em São José dos Campos (SP), em 1980). Dessa forma, a capacidade nacional de refino não conseguiu acompanhar o grande boom das vendas de veículos, impulsionadas pelo aumento da renda da população e pelas facilidades de acesso ao crédito no Brasil. Em 2010, foram licenciados 3,52 milhões de veículos, mais que o dobro dos 1,49 milhão de 2000. A frota atual de carros, ônibus e caminhões já ultrapassa os 30 milhões.

"O governo incentivou a produção de automóveis, numa tentativa de fazer a economia brasileira reagir à crise de 2008, mas não pensou no outro lado da questão, que é a produção de combustíveis", diz. "Sem investimentos compatíveis para aumentar também essa capacidade de refino, não há saída para garantir o abastecimento que não seja a importação", complementa.

No ano passado, por exemplo, o Brasil consumiu 117,9 milhões de metros cúbicos de derivados de petróleo, 11% a mais do que produziu. Até então, a oferta se equiparava ou superava a demanda.

Para fazer frente à crescente demanda pelo combustível, a Petrobras, que responde por praticamente todo o abastecimento de derivados de petróleo no País, investirá US$ 35,3 bilhões na expansão de seu parque de refino, segundo o Plano de Negócios 2011-2015 da companhia.

Os recursos serão alocados em quatro novas refinarias: Abreu e Lima (PE), Comperj (RJ), Premium I (MA) e Premium II (CE).

PRODUÇÃO ATUAL. Com 12 refinarias atualmente em operação, a estatal tem capacidade para produzir cerca de 2 milhões de barris de derivados por dia. Com os quatro novos projetos da companhia, será possível processar mais 1,46 milhão de barris diários até 2020, quando todas as plantas estiverem prontas. Dessa forma, o Brasil ingressará em um seleto grupo de nações cuja demanda interna supera 3 milhões de barris diários, formado por Estados Unidos, China, Índia e Japão.

"O País conta com um pacote de quatro refinarias, sendo que duas delas (Abreu Lima e Comperj) deverão entrar em operação até 2015. Com essas duas novas unidades, nossa necessidade de importação seria momentaneamente interrompida e o refino doméstico já seria capaz suprir a demanda doméstica", diz Vitto. "No entanto, até que esses novos projetos entrem em operação, as importações de gasolina continuarão a acontecer e deverão, inclusive, aumentar até lá", diz.

Ele lembra que as refinarias Premium I e II, por exemplo, apesar de terem sido originalmente projetadas para servirem à exportação, já ganharam nova função nesse contexto.

"Atualmente, a própria Petrobras já considera que as novas unidades serão direcionadas para a demanda interna", exemplifica o analista.

No entanto, diante da expectativa de que o crescimento da economia brasileira se mantenha pelos próximos anos, os especialistas alertam que, da mesma forma, continuaria crescendo também a necessidade de abastecimento do País. "Após a maturação desses quatro projetos, ou o País torna a investir na ampliação de sua capacidade de refino ou voltará, mais uma vez, à condição de importador de combustível", conclui Brendler.

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