Petrobras prevê reajuste de combustíveis

em

A Petrobras trabalha com um novo patamar de preços do petróleo no mercado internacional, com a média em US$ 119 o barril, este ano. A presidente da estatal, Maria das Graças Foster, afirmou que não há indicativo de que o barril possa voltar ao patamar de US$ 70 ou US$ 80. Desta forma, a estatal prevê a possibilidade de um reajuste do preço dos combustíveis no mercado interno para este ano, que pode ser nos próximos dois, três ou seis meses. A demanda por derivados no país cresceu 35% entre 2000 e 2011, contra 15% no mundo.

Graça reiterou que a companhia continuará a evitar que a volatilidade do petróleo tipo Brent no exterior seja repassada para os preços dos combustíveis internamente. "Queremos conservar este mercado [interno de combustíveis], que é a razão de ser da Petrobras", disse Graça, durante palestra apresentada no Rio, à convite do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP).

A presidente citou conflitos no Sudão, Irã, Iraque e Líbia, além do consumo espetacular na China, como exemplos de questões geopolíticas imponderáveis que influenciam o preço do petróleo Brent, referência da Bolsa de Londres, no mercado internacional. "Não é possível imaginar repassar toda a tensão [internacional] para o preço". Para ela, é fundamental uma política de longo prazo que garanta a financiabilidade da companhia.

Respondendo pergunta do ex-presidente da Petrobras Armando Guedes sobre como a estatal está discutindo a questão dos preços com os membros do conselho de administração, Graça respondeu: "Temos colocado a capacidade da companhia de investimento, financiamentos, caixa, custo de captação e mostrado ao controlador". Segundo Graça, a política de preços não está interferindo nos investimentos da empresa. "Hoje temos mais disponibilidade [de recursos] do que nossa capacidade de investir", ressaltou.

Durante sua apresentação, Graça destacou algumas vezes a necessidade da infraestrutura para que os planos da companhia sejam viabilizados e ressaltou que as sondas de perfuração são fundamentais para garantir o aumento da produção. Segundo a presidente, não há uma data definida para a divulgação do Plano Estratégico da Petrobras para os próximos cinco anos, negando que ele esteja definido para agosto, como informou uma publicação especializada. Graça confirmou que a companhia deve receber este ano 13 sondas, que somadas às 27 existentes completarão 40 até o fim do ano.

Há 45 dias no cargo, a presidente da estatal afirmou ter visitado todos os estaleiros do país que têm ou devem ter encomendas da Petrobras. A executiva ressaltou que esses equipamentos são fundamentais para garantir o aumento da produção da companhia. Segundo ela, apenas sete sondas estão contratadas com a Sete Brasil no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e todo o processo está sendo acompanhado de perto.

"[Estamos] o tempo todo cobrando estas sondas", afirmou a executiva. "Estamos junto à Sete Brasil para que não haja inequívocos na construção." Graça também deu um banho de água fria na indústria ao dizer que, para a Petrobras, uma nova rodada de licitações este ano não é importante e não impacta os planos da companhia para o futuro, apesar de admitir que isso "não é bom para a indústria de forma geral". Mas foi franca ao dizer que, do ponto de vista da companhia que comanda, não está "ansiosa por uma licitação".

Durante uma palestra que lotou o "golden room" do Copacabana Palace, Graça Foster mostrou sintonia com seus diretores - todos estavam presentes - e disse que quer imprimir na companhia um ritmo de trabalho que reúna todas as diferentes áreas em torno de assuntos que sejam relacionados. "Um gerente comentou que agora não basta estar todo mundo junto, é preciso estar misturado. E é isso mesmo", resumiu a presidente.

Graça destacou que o Brasil precisa de investimentos externos, já que não tem uma indústria que proporcione 100% de conteúdo local e defendeu a política de industrialização brasileira. "É natural que um país tenha uma política industrial. Se você não tem, outros têm, e vão gerar empregos em seu lugar".

O assunto entrou na pauta de sua reunião com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em encontro em Brasília, nesta segunda-feira. "As empresas americanas estão convidadas a fornecer para nós os equipamentos uma vez que tenham preço e prazo para nos atender dentro da nossa exigência", disse Graça.

Graça confirmou que a Chevron foi mencionada em seu encontro com Hillary, em uma "discussão técnica". A companhia americana responde a um processo bilionário no Brasil depois de vazamento de óleo no campo de Frade.

"Foi colocado que nós somos parceiros da Chevron, que a Chevron é a operadora do campo e que a Petrobras tem estado com a Chevron para discutir tecnicamente todas as questões relacionadas ao caso de exsudação de óleo em Frade". Mas frisou que, como operador da área, a Chevron é a única porta-voz na ANP, a agência reguladora do setor, e órgãos ambientais do Brasil.

Valor Econômico