Populismo tarifário: o alto custo do desprezo pelos preços de mercado

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Deu no GLOBO hoje: Gasto da Petrobras com importações deve subir 24% este ano, para R$ 18,8 bi O aumento do consumo de combustíveis, estimado pelo mercado em cerca de 4% neste ano, vai se traduzir em mais gastos com as importações de derivados, principalmente de gasolina e diesel. Segundo projeções feitas pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), os custos com a compra desses produtos podem subir 24,5% em relação ao ano passado. O montante pode chegar a US$ 18,8 bilhões, maior que os US$ 15,1 bilhões de 2013, já descontados os cerca de US$ 4,5 bilhões referentes às compras externas de 2012 contabilizadas apenas no ano passado. Apesar de o ex-presidente Lula ter celebrado a autossuficiência de derivados de petróleo, o fato é que o Brasil ainda precisa importar combustível, e muito, como vemos. Agora, a própria estatal estima apenas em 2019 o prazo para chegar à autossuficiência. A produção da Petrobras não tem chegado nem perto das metas oficiais, enquanto o consumo cresceu mais do que o esperado, graças aos subsídios estatais, uma vez que o preço da gasolina está represado. Essas tarifas artificialmente reduzidas representam um enorme problema para os países latino-americanos como a Venezuela, a Argentina e o Brasil. Por trás disso está uma total descrença no mecanismo de preços de mercado, e um forte populismo. É o tema do novo livro de Raul Velloso, que fecha uma trilogia sobre o populismo tarifário no Brasil e na Argentina: O que os três livros têm em comum? Velloso afirma que é a denúncia de que os governos de Brasil e Argentina estão praticando uma política de achatamento de tarifas públicas – alimentada pelo populismo – que já está prejudicando o funcionamento das duas economias. Para obter votos e agradar a certos segmentos, as autoridades reduzem na marra tarifas básicas como de petróleo, energia elétrica e transportes, abaixo dos custos de produção desses bens e serviços. Isso dificulta a sobrevivência das empresas envolvidas e impede a necessária expansão da oferta desses mesmos bens e serviços no futuro, diante da baixa atratividade dos investimentos nesses setores. — Ao final, a troco de aparentemente beneficiar os usuários ou consumidores a curto prazo, os governos acabam criando várias distorções e um problema de descompasso entre demanda e oferta no longo prazo, em casos como o da energia elétrica, agravado como está por outros ingredientes críticos, como a hidrologia desfavorável. Isso pode levar à repetição da dramática experiência de racionamento à la 2001 — alerta o economista. Esses governos populistas estimulam o consumo sem se importar com a capacidade produtiva, sacrificam o futuro em prol da visão eleitoral de curto prazo, e acabam criando enormes problemas nos setores afetados e na economia como um todo. São os riscos de se politizar coisas que deveriam seguir a lógica econômica apenas. Não se brinca impunemente com as leis de mercado. Preços servem para transmitir importantes informações aos agentes do mercado. Ao desrespeitar os preços livres e adotar um populismo tarifário, esses governos criam inúmeras distorções que vão cobrar um alto custo depois. No caso argentino, já estamos vendo uma crise de grandes proporções. No Brasil, caminhamos cada vez mais nessa direção.

Veja Online (Blog Roberto Constantino)