Reajuste dos combustíveis e da energia deve custar até R$ 46 bilhões aos consumidores

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Com previsão de que seja necessário um tarifaço no ano que vem, como prevêem muisto econoministas, por causa do represamento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica e da necessidade de elevar impostos para cobrir despesas como o aumento de gastos com o Bolsa Família, os consumidores brasileiros vão ter de pagar uma conta pesada em 2015, independentemente de quem for eleito para a Presidência da República. Apenas o aumento na gasolina e na conta de luz podem custar entre 0,5% a 1% do Produto Interno Bruto (PIB), ou algo entre R$ 23 bilhões e R$ 46 bilhões, que vão corroer a renda dos consumidores. Para se ter ideia do montante, o orçamento do Bolsa-Família para este ano é de R$ 25 bilhões. Esses números foram apresentados por representantes do governo para o diretor executivo e economista-chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes e Américas do Banco Nomura em Nova York, Tony Volpon, que esteve no mês passado em Brasília e conversou com técnicos do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Ele citou a conversa em um relatório distribuído aos investidores da instituição financeira japonesa. As estimativas são que esse custo será até cinco vezes maior que o da correção do Bolsa Família e da tabela do Imposto de Renda anunciados pela presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento para a comemoração do Dia do Trabalho. “Não questionei como eles calcularam esse dado, mas acho que esse é o valor estimado para o aumento da carga tributária. Mas esse aumento não leva em conta o efeito deflacionário da redução da renda disponível do consumidor brasileiro”, explicou Volpon. Segundo ele, esse tema vai estar presente nos debates da disputa eleitoral nos próximos meses. “Essa discussão, daqui para frente, será se isso vai ser feito de uma vez ou gradualmente”, disse. O economista José Matias-Pereira, professor de Administração Pública da Universidade de Brasília (UnB), estima que essa fatura pode ser até maior, chegando a R$ 50 bilhões. Para ele, o próximo governante deverá apresentar um planejamento muito claro do que será feito para recolocar a economia do país nos eixos e assim retomar o crescimento. “Caso contrário, o país continuará no grupo das nações que apresentam desempenhos medíocres no PIB”, afirmou ele lembrando que há uma falta de planejamento de longo prazo no atual governo que condena o país a figurar entre as nações de menor crescimento. “Hoje, não existem planos nem planejamento de longo prazo e as bases da governança, que permitem a governabilidade de um país, estão prejudicadas”, disse. Perspectivas Matias-Pereira criticou a forma como o atual governo vem tratando as contas públicas, utilizando artifícios contábeis para apresentar resultados positivos, sem reduzir os gastos públicos com a máquina, o que, segundo ele, não contribui para o crescimento sustentável da economia do país. Além disso, a persistência do problema faz o país crescer a um ritmo médio de 2% ao ano, abaixo da média mundial e da América Latina. Apesar de anunciar corte de R$ 44 bilhões no Orçamento deste ano, os gastos de custeio cresceram quase 30% no primeiro trimestre do ano. “Seja qual for próximo presidente, ele vai enfrentar muitas dificuldades. O Brasil tem muitos desafios pela frente a serem enfrentados e ele precisa de políticos competentes e éticos que saibam conversar com a sociedade de forma franca, explicando que o país vai passar por um período de sacrifício, mas depois algo bom virá”, afirmou o especialista em contas públicas. O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, vê essa discussão sucessória com muita cautela, especialmente, em relação à expectativa de retomada dos investimentos produtivos no país. Atualmente, lembra ele, o capital estrangeiro encontra no Brasil as maiores taxas de juros reais de mercado, o que inibe o investimento e estimula a especulação. Nos últimos 12 meses pagou 9% enquanto o segundo juro mais alto, na África do Sul, pagou 3,2%. “Os projetos da oposição parecem uma medida recessiva, de desaceleração. É preciso que eles mostrem algo mais do que isso. O programa de austeridade também não tende a ser tão favorável no conjunto de negócios”, avaliou. Essa taxa de juros elevada está relacionada com o preço que o investidor estrangeiro está cobrando para deixar seu capital aplicado no Brasil em meio ao rebaixamento da nota de risco dos créditos soberanos em março passado, pela Standard & Poor’s, que apontou a questão fiscal como uma das justificativas para perda de um degrau da classificação do país.

Estado de Minas Online