Supercade: 17 fusões e aquisições atingem R$ 10 bi em 2 dias

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O empresariado brasileiro correu contra o relógio nos últimos dias para concluir operações de fusões e aquisições antes das mudanças das regras do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que entraram em vigor na terça-feira. Foram 17 operações anunciadas pelas empresas em dois dias, num total de, pelo menos, R$ 10,2 bilhões em negócios. O número de transações — da mineração à churrascaria, passando pelo varejo — representa 12% do ocorrido no mundo nessas 48 horas, segundo a Bloomberg News. O Brasil ficou atrás apenas dos EUA na lista de transações. Incertezas sobre as novas regras provocaram a aceleração dos negócios, principalmente por causa da criação de uma análise prévia das operações pelo órgão federal.
 
— Quem deixou de fechar e registrar a fusão e aquisição até segunda-feira corre o risco agora de levar meses para ter sua operação previamente analisada — explica Ricardo Reis, líder de fusões e aquisições na Ernst & Young Terco.
 
— Tivemos casos de clientes que aceleraram o processo.
 
Carlos Fonseca, sócio do BTG Pactual, que anunciou a compra da rede de varejo Leader, confirma que o volume de fusões e aquisições está sendo antecipado. Para ele, houve uma aceleração principalmente por parte das empresas vendedoras. O banco, que abriu capital recentemente na Bolsa de Valores de São Paulo, finalizou seis transações nos últimos cinco dias:
 
— Até segunda-feira, qualquer operação precisava ser aprovada, mas a transação financeira era feita antes, ou seja, o vendedor recebia o dinheiro e esperava a autorização do órgão. A partir de agora, isso não acontece, fica tudo suspenso até a aprovação do negócio pelo Cade. O processo com a Leader foi acelerado tendo em vista a mudança regulatória. E o processo agora é mais lento. Muita coisa precisa ser regulamentada e esclarecida.
 
 
Órgão pode dar prazo de 15 dias
 
Em princípio, estariam submetidas às novas regras todos os atos firmados a partir de ontem. No entanto, o Cade realiza uma reunião hoje para bater o martelo sobre como se dará a transição. A ideia é permitir que operações notificadas nos próximos 15 dias sejam avaliadas ainda pelas normas antigas.
 
Para Luiz Marcatti, sócio e diretor da área de gestão da Mesa Corpoate Governance, a aceleração das operações apresenta riscos para empresas.
 
— Há detalhes que passam despercebidos, principalmente nas fusões: sinergias de custos, ganhos de receitas. E isso pode ser um problema lá na frente, perigoso para as empresas.
 
Segundo Reis, da Ernst & Young Terco, o processo de antecipação das operações ocorre em um período de relativo aquecimento do mercado de fusões e aquisições no país, seja pelas perspectivas de crescimento no longo prazo ou pelo simples fato de fundos de private equity — que investem em empresas de capital fechado — estarem com caixa cheio para apostar no Brasil:
 
— O país vive um momento de investimentos esportivos e no pré-sal, com toda a questão do PAC e poder de compra das classes C e D. Existem desafios, mas é um cenário positivo.
 
Entre os principais negócios anunciados, destaca-se a compra a Leader pelo BTG. O banco pretende comprar até 70% das ações da varejista, em um negócio avaliado em R$ 1,069 bilhão. A rede tem 65 lojas e faturou R$ 1,3 bilhão no ano passado, 25% a mais que em 2010. Em um primeiro momento, o BTG vai pagar R$ 665,14 milhões, com a compra de ações e aumento de capital. Com isso, terá 40% do capital social total da Leader. Depois, pretende comprar mais 30% por R$ 404 milhões.
 
— O desejo inicial é comprar mais 30% e chegar a 70% do capital. Mas temos 90 dias para isso. Vemos enorme potencial da Leader seja através de crescimento orgânico seja em aquisições — disse Fonseca, lembrando que 30% vão ficar com a família Gouvêa .
 
Na corrida para fechar negócios, nem o churrasco brasileiro escapou. A GP Investments anunciou que vendeu a Fogo de Chão para o Thomas H Lee Partners, fundo de investimentos de Boston, por US$ 400 milhões. Estima-se que a GP tenha pago cerca de US$ 180 milhões, em operação encerrada em 2011. Segundo o presidente da Fogo de Chão no Brasil, Jandir Dalberto, a empresa faturou US$ 195 milhões no ano passado, alta de 14,7% sobre 2010.:
 
— A GP disse que o fundo dos EUA tinha interesse, fizeram um preço e levaram o negócio. Temos 25 restaurantes e vamos abrir mais duas unidades até o fim do ano, uma delas em Boston.
 
Outro produto tipicamente nacional foi vendido na segunda-feira para estrangeiros: a cachaça Ypióca, que era comandada pela família Telles, foi adquirida pela britânica Diageo, dona do uísque Johnnie Walker e da vodca Smirnoff, por R$ 900 milhões. No concentrado setor aéreo, a Azul se juntou com a Trip criando uma empresa com 112 aviões e receita de R$ 4 bilhões.
 
Cosan vende açúcar União e Da Barra
 
E a Cosan, um dos maiores grupos privados do país, com forte presença nos setores de energia, açúcar e álcool, anunciou ontem a venda de sua divisão de alimentos (Docelar) para a Camil. Dona das marcas União e Da Barra, que têm 75% de participação no mercado nacional de açúcar refinado, a Docelar irá reforçar o portfólio da Camil, uma das líderes na venda de arroz e feijão e dona da Coqueiro, de pescados. Em troca de seus ativos de alimentos, a Cosan receberá R$ 345 milhões, além de 11,72% no capital da Camil. O grupo Arfei, controlador da Camil, terá 60,25% da empresa, enquanto a GIF Codajas, controlada pela Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, ficará com 28,03% de participação no negócio.
 
— Temos claro o foco dos negócios e caminhamos para a estratégia desenhada, de concentrar em infraestrutura e energia — disse Marcos Lutz, presidente da Cosan.
 
Colaboraram Martha Beck e Vivian Oswald
 
O Globo