Usinas vendem cana-de-açúcar e deixam de moer

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Sem matéria-prima suficiente para manter as instalações industriais em pleno funcionamento, usinas do interior de São Paulo deixam de processar cana-de-açúcar na safra 2012/2013 e vendem a produção que ainda resta para as concorrentes. Endividadas e sem acesso a crédito, as usinas usam também usam deste expediente para conseguir recursos para preparar seus canaviais para a safra 2013/2014.
 
"É uma saída para reduzirmos os custos industriais e continuarmos os tratos culturais e a renovação dos canaviais para a próxima safra, já que nesta a usina não vai moer", explica o superintendente executivo da usina Dracena, Pedro Collegari.
 
Com capacidade instalada para moer 1,5 milhão de toneladas, a usina Dracena, localizada na cidade paulista do mesmo nome, não vai conseguir retirar mais do que 950 mil toneladas de cana de suas plantações. "É uma quantidade que nos obrigaria a operar abaixo da capacidade, o que causaria no aumento dos custos fixos, de manutenção e de pessoal", explica Collegari.
 
Para evitar prejuízos maiores, a usina venderá a produção para uma usina do grupo Odebrecht, que tem a unidade ETH Conquista do Pontal instalada no município de Mirante do Paranapanema, a 100 quilômetros de distância de Dracena, facilitando a logística para entrega da cana.
 
Segundo Collegari, a transação seguirá os moldes tradicionais. "Seremos como um fornecedor de cana comum. Entregamos a cana na unidade, e os valores recebidos seguem o regime do Consecana-SP." De acordo com Collegari, as estimativas indicam que a usina Dracena deverá colher - e fornecer à ETH - entre 900 mil e 950 mil toneladas de cana.
 
"Esta parceria é interessante porque, além de evitarmos um prejuízo maior na indústria, podemos, com os recursos obtidos com a venda da cana, retomar o padrão dos nossos canaviais, além de reduzir os custos e aumentar o volume de cana para viabilizar a moagem na próxima safra", explica Collegari.
 
Fundada em 2006, esta é a primeira vez que a usina, que produz unicamente etanol hidratado, paralisa o processamento de cana. Na safra passada, a empresa produziu 70 milhões de litros.
 
Dificuldades. A situação da usina Dracena é a mesma vivida por outras usinas de São Paulo, atingidas pela quebra de produção na safra passada, devido a problemas climáticos e também por causa da baixa de renovação dos canaviais, por falta de investimento nas plantações nos últimos anos.
 
"Isso culminou numa produção para 2012 muito inferior à capacidade de moagem. E operar a unidade abaixo dos volumes ideais provoca um aumento nos custos de produção que torna a atividade economicamente inviável", diz Collegari.
 
Outra empresa que também não vai moer nesta safra e entregou a cana para a unidade da ETH foi a usina Alvorada do Oeste, instalada em Santo Anastácio, cidade próxima a Mirante do Paranapanema. A decisão também foi tomada por causa do baixo volume de matéria-prima produzida para a safra deste ano.
 
A previsão é de que a Alvorada venda 350 mil toneladas de cana para a ETH. Com as perdas de 15% na safra passada, a Alvorada não conseguiu renovar seus canaviais, reduzindo a produção para a safra de 2012.
 
A intenção da empresa é investir os recursos da venda da cana na renovação de 25% dos seus canaviais. Devido à situação de recuperação judicial em que se encontra, a Alvorada enfrentou dificuldades para ter acesso a financiamentos para renovar plantações. Por isso, a venda da produção para a ETH foi considerada uma boa solução.