Varejo tem o pior 1º semestre desde o início do Plano Real

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O comércio varejista fechou o primeiro semestre com o pior desempenho para o período desde o início do Plano Real. Dois indicadores que acompanham o ritmo das vendas em São Paulo e no País mostram desempenho muito ruim, apesar de, a cada mês, as quedas terem sido menos acentuadas.

O tombo nas vendas de janeiro a junho foi de 11,1% na cidade de São Paulo comparado aos mesmos meses de 2015, de acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Foi a maior retração desde 1995. Nem na última recessão que a economia enfrentou, em 2009, a queda foi tão forte. No primeiro semestre daquele ano o varejo paulista encolheu 7,7%.

Nas contas da Serasa Experian, a atividade do comércio no País recuou 8,3% no primeiro semestre. Foi o pior resultado da série do Indicador de Atividade iniciada em 2001. A queda supera o recuo de 6,9% observado no primeiro semestre de 2002, época em que o País vivia a “crise do apagão”.

Desemprego em alta, confiança ainda em níveis muito baixos e crédito caro e escasso explicam, segundo os economistas da Associação Comercial e da Serasa, o fracasso do varejo. Luiz Rabi, da Serasa Experian, lembra que em 2009 o País saiu da recessão por causa do impulso ao consumo. “Desta vez é diferente: temos desemprego de dois dígitos, 60 milhões de brasileiros com o nome sujo e não há perspectiva de redução de juros.”

Os dados da Serasa Experian mostram que os setores do varejo mais afetados no primeiro semestre foram os dependentes de crédito. As vendas carros, seguidas por itens de vestuário e eletroeletrônicos recuaram 17%, 13,9% e 13,3%, respectivamente. Já nos supermercados, onde os negócios dependem mais da renda, o recuo foi de 7,5%. O único segmento cujas vendas avançaram foi o de combustíveis, que cresceu 4,3%.

Fundo do poço. Apesar da forte retração no primeiro semestre, os dados mensais mostram reação. Os economistas acreditam que o fundo do poço do comércio foi na virada do primeiro para segundo trimestre. Em abril, o Indicador de Atividade da Serasa caiu 9,5% em relação a igual mês de 2015. Em maio, a queda foi de 8,3% e encerrou junho com retração de 6,7%.

“O pior já passou”, diz o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Em junho, o movimento de vendas em São Paulo caiu 1,5% em comparação ao ano anterior. A retração foi atenuada pelo avanço das consultas para vendas a prazo, que cresceram 1,6% em bases anuais, enquanto as vendas à vista recuaram 4,6%.

Apesar da reação, Alfieri acredita que a atividade bateu no fundo poço, mas ainda não saiu dele. Para ele, a recuperação está sendo puxada por itens sazonais, como aquecedores, chuveiros e artigos de vestuário por causa do frio.

Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), também separa a reação do varejo em dois grupos. Para a venda de bens duráveis e dependentes de crédito, ele não enxerga reação, diante de juros elevados e do calote em alta. “A queda é menor em termos de taxa, mas o faturamento não para de piorar.” Já no caso dos supermercados, por conta do arrefecimento da inflação de alimentos e por vender itens essenciais, é possível acreditar que o pior já tenha passado.

O Estado de S. Paulo